O lado positivo da crise de lideranças

07/06/2018 às 06:00.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:28

  Uma das discussões que emergiram da enorme crise gerada pela paralisação dos caminhoneiros foi sobre a falta de lideranças políticas que pudessem mediar o processo de negociação. De fato, a única liderança que talvez tivesse condições de fazer a mediação do conflito que vivemos se encontra preso. 
Chamou a atenção de todos os observadores a enorme timidez dos postulantes ao cargo de presidente da República. Os principais nomes se omitiram quase que completamente. O único presidenciável que se arriscou a defender suas posições de forma mais firme diante do problema em tela foi Ciro Gomes.
   O que mais chamou a atenção, contudo, foi a grande timidez do presidenciável que tinha mais possibilidade de se beneficiar politicamente da paralisação dos caminhoneiros, a saber, o deputado Jair Bolsonaro. Como demonstraram os levantamentos de opinião, houve um apoio maciço da população ao movimento. Ao mesmo tempo, claramente, o deputado Jair Bolsonaro era visto como a grande liderança política do país por boa parte dos manifestantes. Portanto, se o deputado Jair Bolsonaro quisesse, poderia ter se aproximado dos manifestantes e se tornado um líder político do movimento. Por que ele não agiu assim?
   Os grandes líderes fascistas da história jamais teriam perdido a oportunidade de liderar um movimento como o da paralisação dos caminhoneiros. Benito Mussolini chegou ao poder após liderar uma grande manifestação, a chamada “Marcha sobre Roma”, em 1922. Adolf Hitler, por sua vez, começou a entrar para a história com o chamado “Putsch de Munique”, uma tentativa mal sucedida de golpe que buscou derrubar a República de Weimar.

Os grandes líderes fascistas da história jamais teriam perdido a oportunidade de liderar um movimento como o da paralisação dos caminhoneiros. Benito Mussolini chegou ao poder após liderar uma grande manifestação, a chamada “Marcha sobre Roma”, em 1922.

   Ao agir de forma tímida durante a paralisação dos caminhoneiros, furtando-se a figurar como liderança política do movimento que lhe caiu no colo, o deputado Jair Bolsonaro mostrou não ter a vocação, a convicção e a disposição para ser um verdadeiro líder fascista. As décadas que ele passou como deputado no Congresso Nacional fizeram dele um sócio do status quo. Por isso a sua inapetência para promover ou liderar uma revolução de direita. Felizmente, ficou claro que a crise de liderança política no Brasil também atinge a extrema direita.

   Como já falei em outra coluna, o golpe de 2016 abriu uma caixa de Pandora. Entre os demônios que saíram dela está o crescimento do apoio a um projeto político autoritário e intolerante. Todavia, como ficou demonstrado nos últimos dias, essa base de apoio popular carece de uma grande liderança política. Para sorte do Brasil, não há hoje uma genuína liderança fascista no país!

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