O novo Galo

24/04/2018 às 19:05.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:30

Contra o San Lorenzo Luan jogou, em diversos instantes, aberto pela direita. Sua posição clássica. Foi a última vez...
Naquela oportunidade, o menino maluquinho já transitou, muito além do normal, pelo centro do campo. Havia algo diferente ali. Uma nova orientação. E nos embates seguintes, o que se enxergou em grande parte na Argentina – talvez como uma espécie de embrião de uma ideia –, se materializou inteiramente: nas duas rodadas do Brasileiro, e quando entrou no segundo tempo do duelo frente o Ferroviário, no Ceará, Luan se comportou como um meio-campista. Centralizado. Não mais “peça de beirada”. Tampouco um armador claramente avançado.

Elias tem sido bastante questionado nos últimos tempos. Debate-se frequentemente sobre sua posição ideal. Muitos defendem que este atleta funcionaria melhor como meia. Arquiteto. Mais adiantado. Como nos tempos de Flamengo, com Mano, por exemplo. Poucos perceberam, contudo, que diante do Vasco ele teve chance de atuar assim. E não foi bem. Um detalhe representativo: em São Januário, com o desfalque de Adilson, Blanco foi primeiro volante; Luan, conforme explanamos, jogou por dentro; ao contrário do que seria “lógico”, em certo sentido – já que este último sempre foi visto como “meia-atacante”, e Elias é classificado como “volante” –, quem teve mais liberdade, e permaneceu mais à frente na maior parte do tempo, pelo centro, foi Elias. O sistema variava entre o 4-3-3/4-1-4-1 e o 4-2-3-1. Quando o segundo estava em voga, Elias era o organizador centralizado na linha de três meias – e Luan o segundo volante.

Tenho falando que, no passado recente, Larghi reinventou a função de Cazares. Antes, majoritariamente, uma espécie de “enganche”. Homem que flutuava por trás do centroavante. O armador mais avançado. Já no seu novo labor, um meio-campista com participação mais completa. Mais recuado, em geral. Vindo de trás. Sendo fundamental na saída de bola. Preenchendo os espaços e combatendo com mais assiduidade na fase defensiva. No último domingo, no triunfo contra o Vitória, com o desfalque do equatoriano, Luan realizou exatamente este trabalho – e com o retorno de Adilson, Blanco voltou a ser segundo volante (sua posição de origem, aquela em que rende melhor). Fica a pergunta: considerando que Adilson, hoje, é titular absoluto; que Blanco, no momento, não há de sair do time – se ainda restava alguma dúvida sobre este merecimento (nem acho que era o caso), a atuação de gala na rodada passada tratou de saná-la; e que Luan vem ocupando mais o centro do que os flancos, onde Cazares entrará?

Por um lado, tendo a preferir o equatoriano centralizado. Por outro, Adilson e Blanco hoje formam a dupla de volantes ideal no Atlético – e Luan tem ido bem pelo meio. Para premiar os melhores, reunir uma equipe com a maior qualidade possível – pela fase atual, é bom que se diga –, Cazares teria de entrar na vaga de Róger Guedes. Restariam, taticamente, grosso modo, duas alternativas: Luan retornar para a direita, com Otero indo para a esquerda, e Cazares articulando por dentro, ou permanecer exatamente nos moldes do último domingo, com o equatoriano exercendo o labor que fora executado por Guedes – “ponta” pela esquerda; é claro que, neste caso, uma troca com Otero poderia ocorrer (afinal, o venezuelano até prefere o flanco canhoto, onde pode cortar para dentro e bater de médias e longas distâncias, uma de suas especialidades).

Respondendo à ótima pergunta do excelente Léo Gomide, Larghi destacou que vislumbra um dos seus caras de beirada afunilando periodicamente para funcionar como pensador. Pode ser um tipo de “atenuante” para quem tem receio de ver Cazares aberto – se o técnico optar por colocá-lo por ali: afinal, com a orientação de se movimentar nos contornos assinalados, ele não seria o “ponta clássico”, responsável por dar amplitude ao conjunto.

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