O reajuste do salário dos vereadores em Belo Horizonte

Do Hoje em Dia
13/12/2012 às 06:22.
Atualizado em 21/11/2021 às 19:28

A notícia de que vereadores de Belo Horizonte insistem num reajuste salarial para eles próprios de 61,8% deslustrou ainda mais a comemoração dos 115 anos da capital mineira. É realmente um Triste Horizonte, como observou o poeta Carlos Drummond de Andrade na década de 1970, ao verificar os estragos que a mineração vinha fazendo na Serra do Curral. Triste sim, quando os impostos pagos pela população estão a servir a alguns poucos em prejuízo de tantos.

Se os vereadores recebessem no fim do mês de trabalho intenso em favor dos cidadãos, para aperfeiçoar as leis e melhorar as condições de vida, tão somente o salário de R$ 15 mil proposto pelo vereador Leonardo Mattos (PV), não haveria tanto a criticar. É um salário muito alto, em comparação com o da grande maioria dos moradores, mas seria aceitável, tendo em vista o trabalho realizado. O problema é saber o que de bom têm feito nossos vereadores.

Parecem mais preocupados com os próprios interesses. E têm-se revelado perdulários. Na véspera das eleições, o presidente da Câmara Municipal, Léo Burguês, um dos 19 reeleitos, abriu licitação para comprar mais 598 aparelhos telefônicos de última geração, com gastos previstos em R$ 427 mil, para os gabinetes de cada um dos 41 vereadores, que já dispunham de quatro ramais. Mais telefones, mais alta a conta a ser paga.

Alegar que fazem jus a um reajuste de 61,8%, pois têm direito de receberem até 75% dos deputados estaduais, é muita desfaçatez. Os deputados estaduais mineiros, ainda mais perdulários, não deveriam servir de referência a vereadores, que deveriam ter como referência os cidadãos que os elegem e a forma como os salários destes – e sobretudo dos aposentados – vêm sendo reajustados.

A coluna Negócios S.A revelou na quarta-feira (12) que o Brasil é o último, entre os 30 países que mais arrecadam tributos no mundo, no ranking dos que mais retorno dão em benefícios para a população com o imposto arrecadado. Quem mora em Belo Horizonte sente na pele essa situação.

No mesmo dia em que se revelava que 19 vereadores tinham dado apoio à proposta de reajuste dos próprios salários, em índice igual ao vetado anteriormente por Marcio Lacerda, depois de forte reação de quem paga impostos, a Câmara Municipal aprovou autorização para que o prefeito contrate empréstimo de R$ 500 milhões para obras de saneamento básico. Se ajudassem a poupar verbas públicas, quantas obras seriam feitas sem necessidade de empréstimos?

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