O surreal acontece na Usiminas

07/10/2016 às 13:21.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:08

Vejam só que situação. Na última quarta-feira, a Justiça julgou a favor da recondução de Rômel Erwin de Souza à presidência da Usiminas, e pela destituição de Sérgio Leite, que volta para a diretoria comercial da siderúrgica. Com isso, cria-se a perspectiva surreal de que Rômel permaneça eternamente na direção da empresa. Explico o porquê.

No julgamento de quarta, a Justiça entendeu que a eleição de Sérgio Leite para a presidência, na reunião do Conselho de Administração de 25 de maio deste ano, contrariou o estatuto da Usiminas, que diz expressamente que a eleição do executivo-chefe deve ser feita por consenso entre os sócios controladores.

Estes sócios são os grupos japonês Nippon Steel & Sumitomo e o ítalo-argentino Ternium/Techint, que há mais de dois anos protagonizam a maior briga acionária já vista no país. Tanto Sérgio Leite quanto Rômel Erwin são executivos de carreira na Usiminas e, teoricamente, independentes. Mas, Rômel contou com o apoio da Nippon para chegar à presidência, da mesma forma que Sérgio Leite foi apoiado pela Ternium.

Criou-se a perspectiva de que Rômel permaneça eternamente na direção da empresa

Tanto a eleição do primeiro como a do segundo não se deram por consenso. E não existe perspectiva futura de que esse consenso venha a se dar. Então, se a Justiça afirma que o estatuto da empresa “não pode ser flexibilizado” em relação à escolha consensual do presidente, a perspectiva é a de que Rômel se mantenha vitaliciamente no cargo, que não pode ficar vago.

Alternativas
Trata-se, logicamente, de uma perspectiva teórica baseada na permanência do atual estado das coisas. Mas existem caminhos alternativos e variáveis que podem mudar o quadro. É lógico que alguma solução para o impasse será encontrada.

Essa poderá vir da própria Justiça, caso a Ternium venha a questionar no STF a decisão do TJ mineiro. Mas é mais provável que venha dos próprios sócios. Nesse caso, temos duas saídas mais prováveis.

A primeira, o rompimento do casamento entre Nippon e Ternium. Já tratei desse tema e não vou me alongar. A Usiminas é uma empresa que oferece a possibilidade de divisão de ativos, já que possui duas grandes usinas em Ipatinga e Cubatão. A segunda, é que um dos sócios venda sua parte e saia do negócio. E a terceira, que as direções mundiais dos dois grupos se entendam e levantem bandeira branca.

Ressentimentos
Já disse aqui que a negociação da paz, sem sombra de dúvidas, a melhor saída para a empresa. Quando a Usiminas comprou a antiga Cosipa, de Cubatão, a ideia era ganhar escala e flexibilidade em um setor que passa por um processo de consolidação mundial. Dividir, portanto, representaria perder força.

Posso até entender que, no Brasil, a briga tenha aberto feridas difíceis de cicatrizar. Mas, numa perspectiva de gestão global dos dois grupos multinacionais, não consigo entender por que a racionalidade do lucro não prevalece sobre os ressentimentos.

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