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A Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou de sua reunião de emergência sobre o vírus zika um dos especialistas que criticou a entidade e pediu o cancelamento dos Jogos Olímpicos no Rio. O cientista canadense Amir Attaran havia sido convidado para o encontro que vai determinar, nesta terça-feira, novas recomendações e avaliar a situação do vírus. Mas acabou sendo retirado da lista, sob a justificativa de que ele se recusou a assinar documentos estabelecendo as condições de sua participação.
Attaran foi um dos que liderou uma carta aberta de 150 cientistas à OMS pedindo que a entidade recomendasse o adiamento ou cancelamento dos Jogos no Rio. Segundo a agência de Saúde da ONU, não foram suas posições que fizeram o convite a ser retirado. "A carta dos cientistas fará parte dos debates, assim como outros tantos estudos", disse Christian Lindmeier, porta-voz da OMS.
Segundo ele, cada um dos participantes é obrigado a assinar um termo de compromisso com a OMS para participar do encontro. Nele, fica estabelecido a exigência de que os cientistas mantenham total confidencialidade sobre como as decisões são tomadas e sobre o conteúdo do debate. "Ele (Attaran) não assinou o compromisso", indicou Lindmeier.
Pressionada, a OMS realiza nesta terça-feira uma reunião de emergência para definir uma estratégia sobre como lidar com o surto do zika vírus nos Jogos Olímpicos no Rio. A entidade não deve sugerir qualquer tipo de cancelamento do evento. Mas pode modificar as recomendações de viagem ao Brasil e, nos bastidores, vem sendo alvo de um forte lobby tanto de representantes brasileiros como do movimento olímpico.
Na semana passada, a OMS passou a recomendar oficialmente que mulheres em locais com o surto de zika adiem de forma indeterminada planos de engravidar. Para estrangeiros que visitem os locais, a sugestão é de postergar os planos em seis meses.
Mas, ainda assim, cientistas não devem colocar sobre a mesa uma proposta concreta para adiar ou cancelar a Olimpíada. O Estadão.com apurou que, nos documentos internos da OMS, os especialistas argumentam que interromper o evento não teria mais a capacidade de frear o fluxo do vírus pelo mundo. Antes mesmo de ouvir a recomendação de seus conselheiros científicos, a diretora da OMS, Margaret Chan, já deixou claro que vai ao Rio para o evento, numa demonstração de que não vê risco.
Durante a reunião, um representante do Ministério da Saúde no Brasil também responderá às perguntas dos especialistas. O governo vai dar indicações de que, no período de inverno, a taxa de transmissão de doenças como a dengue sofre uma importante queda e que essa tendência deve ser seguida pelo zika.
"O comitê (de especialistas) receberá a apresentação de dados atualizados do Brasil sobre a situação corrente do vírus no Brasil, as tendências de transmissão ao longo do tempo, a natureza e o impacto das medidas tomadas pelo país para impedir infecções e promover o controle do vetor, assim como outras intervenções para proteger residentes e estrangeiros", explicou a OMS.
Durante o encontro, dados mais atualizados serão apresentados, inclusive sobre a taxa de casos de complicação. Pesquisas também serão avaliadas sobre a microcefalia e outros impactos do vírus.