Onde andam as hortaliças que a gente comia na casa da vovó?

Hoje Em Dia
20/11/2015 às 14:44.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:01
 (Felipe Raul/ AE)

(Felipe Raul/ AE)

Quando alguém pergunta a um mineiro da capital de onde ele é, a resposta normalmente começa com um “eu nasci aqui, mas a minha família é de...” A maioria dos belorizontinos, pelo menos os com mais de 30 anos, tem ou teve uma roça para visitar aos fins de semana, cuidar das galinhas, subir em árvores.

O problema é que nesses 30 anos, com a expansão da indústria alimentícia, os hábitos do brasileiro à mesa mudaram drasticamente. As cidades foram se esquecendo das hortaliças tradicionais à medida que os produtores eram convencidos a cultivar o que as grandes empresas queriam comprar.

A taioba, por exemplo, saiu de circulação. Com a sua inigualável textura macia, a folha verde escura sempre esteve presente nas receitas dos Territórios Gastronômicos Central, Espinhaço e do Cerrado. Mas, sumiu e levou consigo as azedinhas, a vinagreira, o inhame, o cará e tantos outros que, talvez, você nunca tenha ouvido falar.

A boa notícia é que, se depender dos extensionistas da Emater, elas vão voltar com tudo. Um projeto desenvolvido em parceria com a Embrapa Hortaliças, a Epamig e o Ministério da Agricultura implanta, desde 2008, bancos das chamadas hortaliças não convencionais em diversas regiões do estado.

“Temos 13 bancos multiplicadores em funcionamento. São hortas comunitárias de onde os produtores podem pegar mudas, sementes e a própria hortaliça”, conta Georgeton Silveira, coordenador do projeto. “Atuamos em duas linhas: incentivar a maior ingestão das hortaliças e promover o resgate das tradições. Tem gente que acha que ora-pro-nóbis é mato. Isso tem que acabar”, completa.

Ah, e tem mesmo! Segundo especialistas, a ora-pro-nóbis é rica em proteínas, ferro, potássio, fósforo, além das vitaminas A, B e C. Faz bem para a visão, combate o estresse, melhora o funcionamento do intestino e ainda regula a pressão arterial.

“Temos que conscientizar a população sobre a importância de diversificar o cardápio. A pessoa que ingere vários tipos de hortaliças está mais protegida contra doenças do que as que comem sempre as mesmas coisas”, explica a Coordenadora Estadual de Segurança Alimentar da Emater, Dóris Florêncio.

A vinagreira, da família do quiabo, tem antocianina, uma substância antioxidante capaz de retardar o envelhecimento e prevenir diversos tipos de câncer. Já a beldroega, boa para sopas e saladas, é rica em ômega 3, que regula o colesterol.

O projeto da Emater conta com 34 espécies de hortaliças não convencionais, mas a lista não para por aí. “Cada vez que montamos um novo banco, aparecem outras hortaliças. Os moradores locais trazem e a gente incorpora ao projeto, pelo menos naquela região onde a planta é típica”, afirma Georgeton.

Para testar a capacidade de adaptação das hortaliças não-convencionais, o engenheiro agrônomo Gastão Goulart plantou diversas mudas na sede da Emater em Belo Horizonte. “Temos jardins no prédio e usei partes ociosas para plantar. O resultado foi incrível. De cada dez vinagreiras que eu plantei, nasceram onze”, brinca.

Ele garante que “é mais fácil cultivar hortaliças não convencionais do que as outras. São plantas rústicas, não sofrem ataques de pragas. Você só precisa de terra boa, sol e água”.

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