Um leitor não especializado em Economia se sente incomodado quando, ao ouvir comentários e análises em diferentes meios de comunicação, constata o profundo grau de divergência entre profissionais igualmente qualificados quanto às suas propostas para equacionar a atual crise econômica.
Edmund Phelps, agraciado com o Prêmio Nobel em Ciências Econômicas em 2006, identifica sete escolas de pensamento macroeconômico que divergem quanto ao papel das expectativas e da flexibilidade de preços e salários na formulação das políticas econômicas de estabilidade e crescimento de determinado país. Afirma que a crescente diversidade das abordagens macroeconômicas constitui uma demonstração de que nenhuma dessas escolas pode esperar estar correta para todo lugar e todo período histórico. Sugere que o pluralismo é a melhor opção e que a eclosão de pluralismos é inevitável em qualquer caso.
No caso da economia brasileira, pessoas bem intencionadas que assumem a gestão da política econômica com um roteiro a ser implementado a partir do modelo de uma única escola de pensamento macroeconômico podem provocar mazelas sociais e fracassos econômicos decorrentes de resultados inesperados. Erra quem espera que o crescimento econômico seja apenas um resultado espontâneo do equilíbrio fiscal. Erra quem aposta no controle da oferta de moeda e crédito como mecanismo único para reduzir as taxas de inflação. Erra quem pensa que a austeridade fiscal por si só seja capaz de criar, por meio de incentivos descentralizados um ambiente de confiança pró-crescimento.
A concepção e a implementação das políticas econômicas são basicamente uma arte; mais arte do que informação e conhecimento; mais sensibilidade e imaginação do que a crença em um modelo único de predição condicional. Em cada período quando são formuladas alternativas para a superação de uma crise na economia, há de se considerar que as restrições e condicionalidades político-institucionais vêm de um passado que não morreu e determinam em grande parte a trajetória de um futuro que ainda não nasceu. Como dizia Einstein “a imaginação é mais importante que o conhecimento”, pois a imaginação reconhece os recursos, os valores e as estruturas do presente como importantes para formatar o futuro.
Na verdade, desde 2012 a economia brasileira se encontra numa encruzilhada entre dois caminhos distintos. Um caminho tem nos levado do baixo crescimento à recessão, das conquistas sociais ao aumento das desigualdades, das crescentes oportunidades de realização às deprimentes taxas de desemprego. Trata-se da prática de uma ineficaz e recorrente política econômica que por falta de complexidade analítica em sua concepção acaba se transformando apenas na gestão ad hoc de cortes nas despesas públicas e aumentos de impostos.
E o caminho alternativo, cuja viabilidade política pode envolver um processo de crescimento inclusivo que gera empregos, que atenua a instabilidade e que contrarresta as desigualdades sociais. Pressupõe uma política que se fundamenta em reformas de base nas estruturas da economia.
A escolha do caminho deve ser a resultante de opções plurais e ecléticas entre escolas de pensamento macroeconômico, que permitam a construção de novos paradigmas consistentes com a lógica dos mercados. Charles Darwin dizia que não é a mais forte das espécies que sobrevive, nem a mais inteligente, mas aquela que é a mais adaptável às mudanças.