O suicídio do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier, é diferente do caso da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) por diversos motivos. Em decisão assinada pela juíza Raquel Vasconcelos e em peças do inquérito policial, existem provas robustas, conforme as autoridades envolvidas no caso, de que houve irregularidades em contratos da universidade para a construção do Memorial da Anistia, cujo lançamento foi feito por Lula.
Além da Polícia Federal, o caso já tinha parecer apontando várias ilegalidades pela Controladoria Geral da União (CGU) e Tribunal de Contas da União (TCU). Não foi uma ação isolada, como no caso de Santa Catarina.
Documentos do Tribunal de Contas analisando o caso não foram elaborados agora, mas há anos.
Quem mora em Belo Horizonte sabe que não existe concluído o Memorial da Anistia no prédio do antigo Colégio de Aplicação, na rua Carangola, lançado em 2009. Em Santa Catarina, o reitor foi alvo da PF principalmente por denúncia de obstrução à Justiça feita por um desafeto dele. Houve divergência de informações repassadas pela Polícia Federal.
Em Belo Horizonte, não existem desafetos. Existem documentos e grampos telefônicos. Os repasses ocorreram e obra não andou. É o que dizem as autoridades. Não se pode condenar a partir de um inquérito. Mas também não se pode calar frente à farta suspeita de corrupção.
No momento em que a polícia chegou na universidade, certamente o alvoroço estaria armado. Num ambiente repleto de estudantes, em tempos de alta tecnologia, é claro que haveria repercussão imediata.
Quando os professores foram para a porta da PF, estava armada a espetacularização de que acusaram as autoridades. Eles defenderam os colegas sem tomar conhecimento sobre as provas.
“Consta dos autos que, na execução do contrato com a FUNDEP, verificou-se que a maior parte da verba foi gasta no pagamento de bolsas de estágio, extensão e diárias, apurando-se irregularidades na concessão de bolsas para estudantes sem vínculo com a UFMG no período, além de falta de correspondência entre os pagamentos informados em prestação de contas e a conta específica do projeto, bem como a existência de recibos ideologicamente falsos”, diz trecho da ação.
Quando o TCU começou a investigar, a UFMG chegou a romper o contrato com a empresa da ex-secretária estadual de Cultura dos governos tucanos, Eleonora Santa Rosa, contratada, obviamente, sem licitação. Mas os dois profissionais que trabalhavam com ela foram contratados pela FUNDEP, por meio de uma terceira empresa.
A investigação ainda terá outros desdobramentos. O inquérito é farto. O que não se pode é confundir ideologia com combate à corrupção, como os discursos proferidos ontem por vários militantes de esquerda.
Caixa vazio
Cerca de 300 prefeitos mineiros protestam hoje, em frente à Assembleia Legislativa, contra o atraso de repasses estaduais aos municípios. Conforme a Associação Mineira de Municípios, falta cair no caixa R$ 160 milhões de parcelas do transporte escolar, R$ 2,5 bilhões de repasses para a saúde pública e R$ 780 milhões em ICMS.