Um dos momentos mais infames da presidência de Bolsonaro foi a declaração feita pelo então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para que o governo aproveitasse que as atenções da opinião pública estavam concentradas na epidemia de Covid-19 para “passar a boiada” quanto ao enfraquecimento de regras de proteção ambiental.
Infelizmente, a passagem da boiada em momentos de distração não é incomum na política nacional. Inclusive, uma boiada está passando neste momento, enquanto muitos estão distraídos com a Copa.
É a boiada da transição, do enfraquecimento das regras de equilíbrio fiscal e combate à corrupção.
Boiada marcada, até agora, pela PEC da Transição, que autoriza gastos adicionais de R$175 bi pelo governo Lula, sem previsão de receitas para cobri-los; pelo projeto de lei que quadruplica a verba de publicidade e permite a volta do loteamento político das estatais; e pelo projeto de resolução que mantém o orçamento secreto.
Nessa boiada, petistas e bolsonaristas se juntaram para aprovar as medidas.
A PEC da Transição foi aprovada no Senado com 64 votos a favor. Destes, todos os senadores de esquerda e sete senadores de partidos da coligação de Bolsonaro.
As mudanças na lei das estatais foram aprovadas na Câmara por 314 a 66 na parte que quadruplica a verba de publicidade e 223 a 123 na parte que trata do loteamento político. Merecem destaque os votos favoráveis de Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli para o aumento da verba de publicidade, grandes nomes do bolsonarismo que parecem ter esquecido que o mensalão utilizou justamente verbas de publicidade para desviar dinheiro público, e os 59 votos de deputados de partidos da coligação de Bolsonaro favoráveis a autorizar loteamento político das empresas por Lula, número superior aos 40 votos petistas para este texto. O petrolão ocorreu justamente através desse loteamento.
Por fim, a resolução que mantém o orçamento secreto foi aprovada por 328 a 66. O PT que tanto atacou o orçamento secreto, entregou 44 votos a favor e apenas três contra. Os partidos da coligação de Bolsonaro entregaram 120 a favor.
Essas votações têm passado despercebidas para boa parte da população. É uma pena. Com a devida atenção, mostrariam que o “nós contra eles” que dividiu o Brasil teve polos errados. Petistas e bolsonaristas estão unidos quando o assunto é aumentar verbas ou poderes dos políticos às custas do povo.
O “nós contra eles” que poderia ajudar o povo a ter uma vida melhor seria o do cidadão comum, que paga essa farra com seus impostos, contra a elite política que usa dos recursos para se perpetuar no poder e beneficiar a si e aos seus aliados. Para participar desse nós contra eles não é necessário brigar com ninguém. Basta ser vigilante quanto às notícias de Brasília e lembrar delas na hora do voto.