É uma frase comum e cheia de sabedoria, que minha mãe fala para mim desde que me entendo por gente, a que diz “meça uma pessoa pelo que ela faz, não pelo que ela diz”. Há até uma excelente música, que embalou minha adolescência e a de tantos leitores, construída em cima disso: “More than words”, do Extreme.
Na política, entretanto, na qual muitas vezes as opções são binárias entre o voto SIM e o NÃO, essa frase é uma meia verdade. Na política, o que é dito para acompanhar o voto é tão importante quanto o voto em si.
Exemplo disso aconteceu semana passada na votação da PEC dos Precatórios, na Câmara dos Deputados. Apenas cinco partidos tiveram todos seus deputados presentes à sessão votando contra: Novo, PCdoB, Psol, PT e Rede. A lista é heterogênea e colocar todos no mesmo balaio político é um erro. Apesar dos votos NÃO serem iguais, as razões foram muito diferentes.
O Novo votou NÃO porque a medida furará em R$ 80 bilhões o teto de gastos, desferindo golpe mortal no equilíbrio fiscal e provocando ainda mais inflação, e dará calote em credores da União, prejudicando a credibilidade do país e provocando perda de investimentos e de empregos. Além disso, abrirá espaço orçamentário para ainda mais emendas, bilionárias, pelos deputados, permitindo na prática uma campanha antecipada com dinheiro público que torna as eleições injustas e prejudica a renovação política que o Brasil precisa.
O voto NÃO do Novo é condizente com o apoio do partido à Reforma da Previdência e ao trabalho que tem feito pela Reforma Administrativa.
Os demais partidos, sem histórico de defesa do equilíbrio fiscal ou de reformas, votaram NÃO porque a medida partiu do governo Bolsonaro e poderá ajudá-lo a conquistar popularidade com a ampliação de um auxílio em ano eleitoral.
As falas de encaminhamento de votação de cada partido deixam clara essa diferença e, nesse caso, as palavras importam muito. Elas permitem ver a ideologia e o jeito de fazer política – se centrada em pessoas e disputa pelo poder ou em ideias – de cada partido.
Em tempos de correntes de whatsapp, é comum circularem recortes de votações pontuais, sugerindo similaridade de ideias e posições entre quem votou do mesmo jeito, especialmente em projetos mais polêmicos. Isso só deve piorar no próximo ano, que é eleitoral. Será um desafio para a maturidade da democracia brasileira aprender a identificar essas manipulações e a mergulhar nas razões de cada voto, a identificar o que cada SIM ou NÃO de fato representam e quem representa cada cidadão. Não é e não será fácil. Melhor começar desde já.