Professor WendelFormado em Comunicação Social e Artes Cênicas pela UFMG. Professor universitário e deputado estadual pelo Solidariedade

Descobrimento do Brasil?

Publicado em 25/04/2022 às 06:00.

Neste mês de abril comemoramos o Descobrimento do Brasil, e com a data vem a seguinte reflexão: descobrimento ou invasão? O questionamento polêmico separa intelectuais com diferentes pontos de vista, abrindo espaço para análises distintas de um mesmo objeto, o dia 22 de abril e a história por trás da data.

Para os intelectuais indígenas, o termo descobrimento é ofensivo e leigo por natureza; posicionamento com o qual concordo; pois se pararmos para refletir, como é possível descobrir algo inventado por terceiros? É o caso dos primeiros brasileiros, que arquitetaram toda uma sociedade completamente plena e funcional, como é retratada de maneira acurada na carta de Caminha, onde os indígenas possuíam saúde e alimentação em abundância, além de esbanjarem uma relação de respeito com a natureza, indo na direção oposta ao patamar de vida europeu.

É no mínimo incoerente desconsiderar toda a construção social e cultural dos primeiros brasileiros e atribuir o crédito aos europeus, que se aproveitaram das riquezas do Brasil. É importante ressaltar que o “descobrimento” não foi um contato amistoso, como é romantizado nos livros antigos de história, mas sim uma relação abusiva, unilateral, onde os indígenas foram subjugados ao trabalho escravo e tiveram tolhidas suas liberdades. A obrigatoriedade de adesão ao cristianismo imposta pelos portugueses também fez com que os indígenas tivessem de abdicar das próprias crenças.

Enquanto que a chegada dos europeus nas Américas foi fundamental para o desenvolvimento das monarquias europeias, essa vinda, por outro lado, resultou em desapropriação cultural, geográfica e social para os indígenas.

Essa desapropriação se perpetua até os dias atuais, e segue abrindo margem para ofensivas de governantes contra as terras indígenas, que são frequentemente deslegitimadas. O desmatamento que corresponde aos interesses do agronegócio invasivo e a desapropriação de terras que atende à mineração predatória seguem prejudicando e dificultando o estilo de vida indígena. A poluição dos rios e tragédias como o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho contribuem para o desrespeito com estes povos, que acabam tendo seus direitos desrespeitados.

O Brasil acima de tudo é uma terra indígena, composta hoje por um povo miscigenado. É um absurdo desmerecer os que foram os primeiros brasileiros, bem como seus costumes e sua cultura. A riqueza indígena é atemporal e inestimável.

O conceito eurocentrista arraigado de que os colonizadores do Brasil só trouxeram avanço e progresso segue abrindo margem para invasões inconstitucionais às terras indígenas, que ocorrem até hoje e que são inaceitáveis e dignas de repúdio.

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