Professor WendelFormado em Comunicação Social e Artes Cênicas pela UFMG. Professor universitário e deputado estadual pelo Solidariedade

“Rios invisíveis” de BH

13/03/2020 às 20:03.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:57

Este ano, as fortes chuvas, que provocaram enchentes, ceifaram vidas e trouxeram prejuízos a milhares de famílias, levantaram debates muito relevantes sobre as causas deste desastre natural. Entre estes, muito interessante a questão sobre os diversos córregos que cortam Belo Horizonte, mas que foram sufocados com a urbanização da capital. Em sua obra, “Rios Invisíveis da Metrópole Mineira”, do geógrafo Alessandro Borsagli, temos muitas informações sobre a abundância de nascentes e córregos no território de BH, na época de sua implantação como a nova capital de Minas. 

O autor cita a importância da bacia do ribeirão Arrudas, que ocupa uma área de 20.600ha, dos quais 16.200 pertencem a Belo Horizonte. O Arrudas possui centenas de afluentes, que percorrem diversos bairros da nossa capital. Mas onde estão estes ribeirões? 

De acordo com a Sudecap, BH conta com aproximadamente 655 km de cursos de água, sendo que 200 km se encontram canalizados a céu aberto ou escondidos sob a malha viária da capital, ou seja, debaixo do concreto e do asfalto em vários locais da cidade. Quando Belo Horizonte foi inaugurada em 1898, corria em seu território, córregos com águas límpidas, que passavam por praticamente todos os atuais bairros de BH. Segundo narrativas do livro, as águas faziam parte da vida dos habitantes de BH durante muitas décadas, que a utilizavam para beber, para limpeza e inclusive para momentos de lazer, pois muitos iam pescar e nadar nas águas límpidas dos ribeirões. 

Á medida que a capital crescia, mudava a relação com os abundantes cursos de água em toda cidade. Em nome do progresso, estes passaram a ser escondidos sob as camadas de asfalto. Por exemplo, o córrego do Acaba Mundo, que dividia os bairros Sion e Anchieta, seria enterrado sob a construção da BR3 e também virou avenida Uruguai. O córrego do Leitão cedeu lugar ao progresso com a construção da avenida Prudente de Morais, o córrego dos Pintos foi canalizado até o cruzamento da avenida Amazonas, na região do bairro Gutierrez. O Arrudas foi canalizado em vários trechos, ficando encerrado em um canal de concreto e assim, vários outros. 

Segundo o autor, desde as intervenções feitas na rede hidrográfica os transbordamentos são constantes e este ano, com o alto volume de chuvas, pudemos sentir como as águas cobram seu lugar. Alessandro Borsagli aponta de maneira técnica com base em estudos e pesquisas, soluções para este problema. Uma importante voz que o mundo político deve ouvir e acatar as sugestões. 

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