Perspectiva RacialUm espaço para mostrar como o racismo se revela no cotidiano, a fim de que toda a sociedade compreenda a importância de se engajar nessa luta. Andreia Pereira é doutora em Literatura (UnB), servidora pública federal, jornalista, professora, pesquisadora e palestrante.

¿Dónde están nuestros hermanos negros?

Publicado em 20/12/2022 às 06:00.

A primeira dúvida que ressoou em minha mente quando pisei os meus pés em Buenos Aires, na Argentina, em 2017, foi: onde estão os argentinos negros? Fiz esse passeio com minha amiga Silvana Patrícia Costa dos Santos, que também é negra. Foi uma viagem incrível. Visitamos diversos pontos turísticos e conhecemos um pouco da cultura argentina como turistas brasileiras e, sobretudo, negras.

De maneira quase que automática, pessoas negras têm a habilidade de reparar a quantidade de pessoas pretas em determinado lugar. Inclusive, a posição da pessoa negra também não nos passa despercebida. Na capital argentina, não vimos pessoas negras nem em posições subalternas. Por exemplo, não vimos pessoas negras trabalhando como operários da construção civil nem como profissionais da área da limpeza.

Com a campanha e vitória na Copa do Mundo, a seleção da Argentina também ganhou destaque na mídia e nas redes sociais pela falta de jogadores negros. A verdade é que a narrativa que é conhecida e contada – ao menos no Brasil – acerca da formação da população da Argentina oculta a história de escravização dos negros africanos, bem como seu genocídio e sua invisibilização.

No século XVIII, a Argentina registrou que uma média de 50% da sua população era de negros escravizados. Atualmente, os dados disponíveis apontam que aproximadamente 3% do povo argentino são negros. Ativistas afro-argentinos chegam a dizer que há no país dois milhões de negros. Onde eles estão? Diferente do Brasil, nossos vizinhos afro-argentinos estão, ainda, rompendo barreiras em busca de serem primeiramente vistos. Eles ainda lutam para serem notados. Esse “atraso” nada mais é do que mais uma artimanha de uma sociedade estruturada pelo sistema escravocrata, a fim de tentar apagar a verdadeira história.

A falsa ideia de uma hegemonia branca europeizada, contudo, não consegue aniquilar a principal herança da escravidão: o racismo.  E o futebol, mais uma vez, mostrou as faces do racismo. Nem preciso apresentar os exemplos que a Copa do Mundo estampou. Basta o mínimo de humanidade e empatia para enxergar que, independentemente da quantidade de vitórias no campo, muitos são os países que seguem perdendo no jogo da vida. 

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