Tiago MitraudAdministrador e deputado federal pelo NOVO/MG. É Líder do RenovaBR e dirigiu a Fundação Estudar

A volta da inflação

08/10/2021 às 18:07.
Atualizado em 05/12/2021 às 06:01

A inflação oficial medida pelo IBGE alcançou, em setembro, uma taxa de 10,25% nos últimos 12 meses. A meta para este ano é de 3,75%. Desde 2004, somente em uma ocasião o país viveu um surto inflacionário pior, entre os anos de 2015 e 2016, como consequência da liberação dos preços represados pelo governo Dilma no ano eleitoral. Em dezembro de 2015, a inflação alcançou 10,7%, contribuindo para derrubar a popularidade da então presidente, que acabou cassada meses depois.

O atual governo parece seguir pelo mesmo caminho. Enquanto os preços sobem, a popularidade de Bolsonaro, pela primeira vez, ameaça alcançar patamares inferiores a 20% do eleitorado. Não sem razão. Além das barbaridades cometidas no combate à pandemia, os brasileiros têm sentido no bolso seu dinheiro perdendo valor a cada dia. Se o índice geral acumula alta de 10%, os alimentos subiram 12,5% nos últimos 12 meses. Para se ter uma ideia, isso significa que uma compra no supermercado que custava R$ 400 há um ano custa agora, em média, pouco mais de R$ 450, podendo ser muito mais em algumas regiões.

É preciso reconhecer que a escalada da inflação é hoje um problema global, presente em diversos países. O aumento de preços, afinal, é consequência natural de restrições de oferta impostas pela pandemia. No Brasil, porém, é fato que os preços subiram mais. Temos hoje a terceira pior inflação entre os países do G20, atrás apenas de Argentina e Turquia.

E dois fatores contribuíram para isso.

Em primeiro lugar, parece claro que prolongamos demasiadamente os juros baixos. O ajuste dos mecanismos de política monetária durante a pandemia eram mesmo complicados diante de um contexto completamente novo, com mudanças rápidas nos padrões de consumo dos agentes econômicos, e, ao que parece, erramos na mão.

Outro fator fundamental foi a desvalorização de nossa moeda, processo intimamente ligado à perda de confiança em nossa economia. O Real foi a sexta moeda que mais se desvalorizou no ano passado. O aumento do dólar provoca aumento dos preços de tudo aquilo que é importado ou exportado, pressionando a inflação.

Com o avanço da vacinação, a pandemia começa a dar sinais de trégua. O Banco Central parece estar direcionando a política de volta aos trilhos. Mas a lentidão nas verdadeiras reformas e os constantes conflitos políticos entre os poderes não contribuem para o restabelecimento da confiança dos investidores no Brasil, e o câmbio segue pressionando os preços.

O que é pior: diante do crescimento da inflação, o país frequentemente flerta com soluções equivocadas, que agravam ainda mais o problema da confiança, como políticas de controle de preços. Em especial, nos mercados onde os aumentos têm sido maiores, como combustíveis. Experiências anteriores evidenciam quão graves podem ser as consequências. Inflação se resolve com política macroeconômica, não com controle de preços. 

O governo precisa ser o primeiro a rechaçar essas propostas, mas não parece disposto a isso. Aumentar os juros deverá ser necessário, mas será ainda mais eficaz se for acompanhado de outras medidas como o controle do déficit público (que passa pelo controle das despesas), o fim das bravatas que produzem instabilidade política e o avanço das reformas. Por pior que seja o governo, tais medidas terão sempre o nosso apoio. Restabelecer a confiança no país, recuperar a valorização de nossa moeda e, assim, controlar a inflação deve ser a prioridade de todos. Resta saber se será de fato a prioridade do governo.

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