Desde junho de 2013, quando o aumento nas passagens de ônibus serviu de estopim para o início de uma onda de manifestações em todo o país, a população brasileira adquiriu uma nova forma de se relacionar com as ruas.
Com a Operação Lava-Jato deflagrada em 2014, os objetivos difusos de 2013 tomaram uma forma mais nítida: o combate à corrupção e à impunidade. Porém, mesmo com a insatisfação aflorada, acabamos naquele ano reelegendo o governo corrupto e inúmeros caciques também envolvidos em escândalos.
Então, já em março de 2015, as manifestações voltaram com ainda mais força. Ao combate à corrupção somou-se o impeachment de Dilma Rousseff e, em março de 2016, tivemos as maiores manifestações da história do país.
Com o afastamento constitucional da presidente, a sociedade civil começou a se organizar para não repetir no pleito de 2018 a falta de opções nas urnas de 2014. Muita gente se movimentou e, em 2018, tivemos uma renovação significativa no legislativo e no executivo em vários estados e no nível federal.
No próximo domingo, teremos mais uma manifestação, da qual não participarei. Defendo sempre que cada cidadão sinta-se livre para ir às ruas de forma pacífica expressar a sua opinião. Melhor ainda quando o que leva o cidadão à rua é sua própria vontade e não a "caixinha" que irá receber para isso ou o famoso lanche com mortadela.
Porém, deixando claro meu repúdio às convocações anti democráticas que defendem fechar o Congresso e o STF, vejo que a principal pauta explícita para a manifestação do dia 15 é a defesa pura e simples do Governo Bolsonaro.
No entanto, para alguém como eu que está insatisfeito com a demora nas reformas, é incoerente defender este governo a qualquer preço. Junto com a oposição que não quer ver o Brasil melhorar e aqueles congressistas que preferem ganhar emenda a votar pelo país, o governo hoje é parte significativa do problema de lentidão na aprovação das mudanças que precisamos.
Esperamos há meses o envio pelo executivo das reformas tributária e administrativa. Ao invés de priorizá-las, Bolsonaro prefere a cada hora levantar uma nova cortina de fumaça. Desde acusar Leonardo diCaprio pelas queimadas na Amazônia (!) até a recente irresponsabilidade de denunciar publicamente supostas fraudes nas eleições que ele mesmo ganhou, o presidente tem se portado como grande fator de instabilidade no país. E próximo a ele encontram-se inúmeros outros agentes que, ao invés de colocarem as reformas acima de tudo, preferem tumultuar o ambiente que as fará serem bem sucedidas.
Portanto, não acho que o governo e o presidente devam e nem mereçam ser defendidos. Se as pautas fossem a aprovação das reformas, estaria lá. Mas aí teríamos que incluir cartazes como “Cadê a reforma, Jair?"