Tiago MitraudAdministrador e deputado federal pelo NOVO/MG. É Líder do RenovaBR e dirigiu a Fundação Estudar

Trump e as redes sociais: como lidar com ideias ruins?

18/01/2021 às 11:37.
Atualizado em 05/12/2021 às 03:57

Na última semana, acompanhamos a lamentável invasão do Congresso americano por apoiadores do presidente Trump, que resultou em cinco mortes e dezenas de feridos. Tal fato nos mostrou que nem mesmo uma das mais sólidas repúblicas do planeta está a salvo de ter seus tradicionais ritos democráticos ameaçados.

Trump, que estruturou toda sua comunicação em plataformas de redes sociais ao longo dos últimos anos, usou suas contas para inflamar seus seguidores, o que contribuiu para a ação. 

Como consequência, e após a exclusão de alguns posts, plataformas como Twitter e Facebook decidiram remover a conta do Presidente.

Em seguida, Apple, Google e Amazon fecharam o cerco ao aplicativo Parler, usado por seguidores de Trump, removendo a nova rede das suas lojas de aplicativos e suspendendo a hospedagem do app.

Trump é um péssimo líder. E, por mais que eu discorde de inúmeras ideias de Joe Biden, considero a derrota do atual presidente americano um importante recado para outros líderes populistas e autoritários mundo afora (conhecem algum?), que acreditam que podem permanecer no poder a qualquer custo. Dito isso, é preciso fazer duas perguntas sobre o episódio. 

Empresas privadas que fornecem determinado serviço podem remover a conta de usuários? Entendo que sim. Principalmente se o usuário desrespeitar os termos de uso das plataformas, com os quais concordou ao criar a sua conta. Claro que esses termos são por vezes confusos e arbitrários, o que é muito ruim. Mas mesmo isso deve ser um direito da empresa. Usa seus serviços quem quer. E o usuário que se sentir lesado, pode recorrer à justiça.

A segunda pergunta, ainda mais importante, é: as empresas deveriam remover a conta do presidente Trump? Para respondê-la é fundamental lembrar que há duas formas de lidar com ideias que reprovamos. A primeira é suprimindo-as. A segunda é combatendo-as com mais ideias, diferentes e melhores. Liberdade de expressão é, fundamentalmente, a liberdade de qualquer indivíduo se expressar como quiser, mesmo que desagrade ou ofenda outro. Vale lembrar que um cidadão pode ser legalmente responsabilizado por aquilo que publica nas redes sociais.

A questão é complexa, e não há resposta fácil. Porém, preocupa-me a precedência criada à supressão de ideias, gostemos delas ou não. E esta está longe de ser uma preocupação só minha. A chanceler alemã Angela Merkel, por exemplo, afirmou que a decisão das empresas é problemática. Afinal, após o banimento de Trump, quem poderá ser o próximo? E por qual razão?

Entendo que a vontade de reduzir o alcance daqueles que proferem absurdos imensuráveis e perigosos na internet é grande, mas não devemos tratar medidas drásticas como esta como razoáveis. Nunca se sabe o que pode ser considerado inaceitável amanhã ou depois. Recentemente, o deputado americano Ron Paul também teve sua conta bloqueada pelo Facebook, supostamente por questionar a eficácia de lockdowns.

É a partir do combate franco entre diferentes ideias que evoluímos como sociedade, e não a partir da supressão daquilo que o atual senso comum considera absurdo. Ideias ruins devem ser combatidas com boas ideias, e não com restrições à liberdade de expressão.

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