Wadson RibeiroWadson Ribeiro é presidente do PCdoB-MG e foi presidente da UNE e secretário de Estado

Mineiros lançam a Frente Nacional Contra a Censura

22/11/2017 às 21:31.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:50

Em sua tricentenária história, Minas Gerais sempre demonstrou sua clara vocação para a rebeldia quando está em jogo a liberdade e a sustentação dos direitos humanos básicos da livre manifestação do pensamento. Na Colônia, no Império e na República, nas lutas contra o jugo colonial, no surgimento pioneiro do sentimento nativista, na aspiração da Independência e da República, assim como nos movimentos marcantes de formação da nacionalidade brasileira, Minas Gerais sempre teve presença e papel decisivo. Este é o sentimento que aflora quando assistimos no Palácio das Artes, na última terça-feira, a reunião que assinalou o lançamento da Frente Nacional Contra a Censura.

O auditório do Grande Teatro ficou lotado e lá estavam, em expressiva diversidade, mas em unânime representação, todos os segmentos da cultura mineira, da intelectualidade, artistas, jornalistas, profissionais de todos ramos que trabalham com o pensamento e a criatividade, irmanados no protesto e na resistência contra a onda obscurantista e conservadora que vai tomando conta do país, em flagrante e opressivo retrocesso e que, infelizmente, alcança também outros segmentos da sociedade brasileira, restringindo conquistas e direitos conquistados em muitas lutas sociais e econômicas.

O movimento lançado foi uma reação aos que tentaram censurar o painel ArteMinas, onde foram expostos os trabalhos dos artistas plásticos Pedro Moraleida, Marta Neves, Randolpho Lamonier e Desali. A Frente Nacional Contra a Censura foi a expressão principal de várias ações que setores da sociedade civil mineira tomaram para garantir a continuidade da exposição. Foram organizadas manifestações, reuniões e uma vigília cultural permanente na porta do Palácio das Artes. Graças a esta histórica resistência, a exposição conseguiu cumprir sua programação, ao contrário de dezenas de eventos culturais que foram censurados recentemente país afora.

O exemplo de Minas, que as classes culturais reunidas demonstraram, é que não se pode transigir com a liberdade de expressão. Ela é básica para a democracia, para os direitos da livre manifestação de opiniões, do pensamento político, do exercício pleno da criatividade artística. Sem esta liberdade fundamental sufoca-se a cidadania, anulam-se os direitos humanos e as relações sociais produtivas, suprime-se o humanismo essencial à construção de uma sociedade livre, solidária, progressista.

Impedir a livre criação artística, em nome de falsos moralismos, de fundamentalismos desprovidos de razão e verdade, abre caminho para um totalitarismo em que a censura e a mentira prevalecem. E em que a consciência crítica deixa de exercer seu papel fundamental na própria evolução das sociedades humanas. Não se pode aprisionar o pensamento e a criatividade em dogmas e tabus, anti-iluministas e regressivos, que impedem as energias criativas, sob pena de estacionarmos no tempo, imobilizados, estagnados, retirando-nos do processo histórico e das transformações sociais tão necessários pra a construção de uma vida mais justa para todos.

A reunião que assistimos no Palácio das Artes é um brado da Minas libertária e irredentista, que deve repercutir em todo o país. E que esta tão importante reunião sirva de exemplo e advertência de que a sociedade está atenta e disposta a lutar pelos direitos fundamentais da livre opinião e da criatividade, que a arte representa.


 

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