O governo do presidente Jair Bolsonaro enfrenta, pela primeira vez, uma oposição que não é composta apenas pela esquerda. Partidos e movimentos que o apoiaram em 2018, como o Movimento Brasil Livre (MBL), o PSDB e diversas outras entidades, organizam manifestações pelo impeachment em conjunto com os partidos de esquerda e entidades dos movimentos sociais em centenas de cidades brasileiras, no próximo sábado (2). Assim como revelam as últimas pesquisas, o governo é rejeitado por uma parcela cada vez maior da sociedade. Contudo, somente um amplo movimento nas ruas é capaz de reverter a correlação de forças hoje desfavorável na Câmara Federal para a abertura de um processo de impeachment.
Após divulgar a carta escrita por Michel Temer e dizer que seria mais comedido dali em diante, Bolsonaro não esperou nem uma semana e, na Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque, envergonhou o Brasil com um discurso marcado por mentiras e por um completo despreparo. Além disso, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, testou positivo para a Covid-19 em pleno solo americano, tornando ainda mais bizarra a passagem da delegação brasileira na ONU, vista pela maioria do mundo como caricata, negacionista e digna de piadas. A participação na ONU revela o grau de isolamento do Brasil perante o mundo e os riscos que isso traz para nossa economia e para a estabilidade institucional. Em seu discurso, o presidente não se dirigiu ao povo brasileiro como um todo, mas sim aos seus fanáticos seguidores, cada dia menores e mais violentos. Utilizou a tribuna da ONU para fazer campanha eleitoral antecipada sem se preocupar com a grave crise brasileira.
O Brasil vive novamente com o fantasma da inflação que, provavelmente, chegará à casa dos dois dígitos nesse ano, corroendo os baixos salários que já não conseguem comprar quase nada. Os sucessivos reajustes nos preços do gás de cozinha, dos combustíveis, da energia elétrica e dos alimentos afetam diretamente a população mais pobre. Bolsonaro cria factoides políticos diários para tentar esconder um governo que não tem gestão e que empurra o Brasil para o precipício. Enquanto isso, abre a porteira para sustentar seus aliados com emendas parlamentares, cargos no governo, direito de desmatar, de garimpar, de tomar terras de índios, de comprar armas e de debochar do sofrimento daqueles que passam fome, estão desempregados ou que perderam parentes e amigos na pandemia pela falta de ação do governo.
As revelações expostas na CPI da Covid-19 no Senado, que terá seu relatório divulgado no próximo dia 20 de outubro, serão uma bomba contra Bolsonaro. Além de boicotar a compra de vacinas e estimular o tratamento precoce, uma teia de corrupção está sendo exposta envolvendo membros do alto escalão do governo. Crimes de responsabilidade foram cometidos por Bolsonaro o que justifica a abertura do impeachment. No entanto, nenhum presidente é deposto com 25% de aprovação. Para isso, precisamos dos votos na Câmara Federal e da construção de uma maioria na sociedade, o que exige amplitude política para extrapolar a bolha dos setores progressistas e de esquerda e chegar aos corações e mentes de uma parcela que um dia votou de forma iludida em Bolsonaro. Precisamos unir o campo progressista e rachar o campo que outrora apoiou Bolsonaro.
A questão mais importante para o Brasil é a derrota desse. A unidade de amplos setores políticos e sociais precisa se dar na defesa da democracia, da vacina para todos, do combate à fome e ao desemprego. O debate eleitoral de 2022 não pode estar à frente da unidade de todos os setores que se levantam contra Bolsonaro. Exemplo disso é o dia 2 de outubro, convocado por PCdoB, PT, PSOL, PDT, PSB, PV, Rede, Solidariedade e Cidadania. Essa iniciativa ganha a adesão de outros partidos em alguns Estados, além das entidades dos movimentos estudantis, sindicais, diversos coletivos, trabalhadores sem-terra, sem-teto, movimentos religiosos, dentre outras entidades que organizam o ato. Só é possível uma bandeira como a do impeachment de Bolsonaro avançar se setores mais amplos da sociedade estiverem nessa ideia. Se a esquerda empunhar sozinha o “Fora Bolsonaro”, não terá a maioria da sociedade, nem de votos na Câmara para derrubar esse governo.
A unidade é o único caminho para tirar o Brasil do obscurantismo bolsonarista.