Wadson RibeiroWadson Ribeiro é presidente do PCdoB-MG e foi presidente da UNE e secretário de Estado

O golpe fica cada vez mais autoritário

04/04/2018 às 22:14.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:10

Golpe é assim: a gente sabe como começa, mas nunca sabe onde termina. Só há uma certeza: o Brasil vive um dos seus momentos mais difíceis, com uma crise que se aprofunda a cada dia. Já não bastassem tantos problemas, agora os militares começam a se assanhar e ameaçam sair dos quartéis para novamente assumir o poder. Na base da força, das armas e contra a democracia e o povo.

O sinal mais eloquente veio do general Eduardo Villas Boas, comandante do Exército. Na noite de terça-feira (3), ele publicou dois tuites que acenderam um debate sobre uma possível pressão sobre o Supremo Tribunal Federal (STF) por parte das Forças Armadas. Sem citar o julgamento do habeas corpus preventivo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que aconteceu nessa quarta-feira (4), o comandante do Exército fez comentários em “repúdio à impunidade”. Foi uma espécie de quartelada via Twitter.

A intolerância que permeia nas redes sociais não podem ser incorporada pelo nossos comandantes militares. A democracia é muito cara para nós. As Forças Armadas têm que cumprir seu papel constitucional de defesa da soberania nacional, de proteção das fronteiras. E não foram criadas para se envolver com a política. A última experiência, o golpe militar de 1964, deixou um saldo de milhares de executados, torturados e desaparecidos pelo regime.

A manifestação do Comandante, seguida de outros oficiais das Forças Armadas, comprovam que os rumos do golpe são imprevisíveis. O certo é que para aqueles que estiveram à frente da retirada da presidenta Dilma do poder, o próximo passo é a prisão do ex-presidente Lula. Acham eles que se prenderem Lula vão prender nossas ideias, nossos sonhos, vão prender nosso projeto de país. O alvo dos golpistas é a nossa experiência exitosa de 13 anos que ousou pensar o Brasil diferente, desenvolvido e para a maioria do seu povo.

Lula é perseguido porque foi a materialização deste projeto democrático e popular. E é mais odiado pela elite quanto mais é adorado pelas populações pobres. A elite não compreende, e não aceita, que ele esteja figurando como líder em todas as pesquisas de opinião sobre o voto para a presidência da República. Se não podem vencê-lo nas urnas, usam a justiça, a mídia e agora as Forças Armadas para tirá-lo do jogo e encarcera-lo para que não possa nem apoiar algum candidato e tentar transferir seu prestígio.

Enquanto escrevo este artigo, a ministra Rosa Weber proferia o seu voto referente ao habeas corpus impetrado em favor do ex-presidente Lula no STF. Considerado um voto decisivo, optou por negar o recurso. Se não houver algo extraordinário nos votos seguintes, como um pedido de vistas, a maioria do Supremo define que o ex-presidente pode ser preso de acordo com a decisão do juiz Sérgio Moro. Ou seja, o golpe se aprofunda na ilegalidade e no autoritarismo. A sociedade brasileira, os democratas em especial, podem ter perdido uma importante batalha, mas devemos continuar na luta que estamos há muitos anos. Assim como em outros períodos da história, o povo há de reagir ao arbítrio e conduzir nossa nação de volta à democracia. 


 

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