Em mais uma desastrosa participação do governo brasileiros no Fórum Econômico de Davos, na Suíça, repetindo assim a fraca performance que teve o presidente Jair Bolsonaro em 2019, o ministro da Economia Paulo Guedes atribuiu aos pobres de todo o mundo a culpa pela destruição do meio ambiente. Além de afrontar a inteligência mundial e reforçar uma imagem predatória do Brasil, o ministro inverteu a ordem dos fatos e produziu um verdadeiro contorcionismo semântico para justificar o que a elite econômica mundial não explica. Por que o Capitalismo degrada tanto o meio ambiente?
A roupagem ambiental que essa edição do Fórum de Davos pretende passar ao mundo, se vista de forma desatenta, pode parecer algo benéfico a um meio ambiente que pede socorro e se degrada de forma acelerada. No entanto, são os países centrais do Capitalismo que, no passado e no presente, destroem seus patrimônios ambientais em nome de um desenvolvimento desordenado e predatório. A faixa dos 10% mais ricos da população mundial corresponde pela metade da emissão de CO2, enquanto os 10 % mais pobres da população mundial correspondem por apenas 1% da emissão dos gases do efeito estufa, de acordo com estudos do instituto OXFAM de 2015. Portanto, é o padrão de consumo dos ricos e a forma como o Capitalismo organiza a produção e a concentração de renda que verdadeiramente sufocam o meio ambiente, não a população pobre que é vítima do descaso ambiental.
O que as elites brasileiras e as de Davos precisavam verdadeiramente entender sobre o meio ambiente, é que não se pode resumir esse debate a uma visão santuarística das florestas, dos rios, dos recursos minerais ou da biodiversidade existente em países como o Brasil. É a política econômica ultraliberal emanada de consensos como os de Davos, que fazem dos pobres mundo a fora as principais vítimas da destruição do meio ambiente. Quando há mudanças climáticas e chove mais, são as casas dos pobres que alagam. Quando as lavouras não produzem alimentos suficientes e eles encarecem, falta comida é na mesa dos pobres. As águas de má qualidade contaminadas pela poluição são ingeridas pelos mais pobres. O estresse das grandes cidades com o transporte acomete mais intensamente a população pobre.
De acordo com a revista científica The Lancet, somente a poluição matou mais de 100 mil brasileiros no ano de 2015, trabalhadores expostos as mais insalubres condições de trabalho e de moradia.
A conversa de Davos não é verdadeira. Ali cada qual no seu canto defende seus interesses econômicos e geopolíticos. Cabe ao Brasil enquanto nação soberana, mas ainda subdesenvolvida, defender os interesses nacionais levando-se em conta as enormes possibilidades científicas e tecnológicas que propiciam nos dias atuais conjugar, de forma equilibrada, o desenvolvimento científico, industrial e econômico com a não degradação do meio ambiente. As reservas brasileiras de água doce, recursos minerais, extensão oceânica, petróleo, gás, enfim, a enorme biodiversidade que compõe o Brasil, tem que estar a serviço de um novo salto civilizacional, produzindo uma vida mais digna aos brasileiros. As potencialidades que os recursos naturais e o meio ambiente como um todo oferecem ao Brasil têm que representar ativos para o desenvolvimento nacional e exemplos de sustentabilidade para o mundo.
A centralidade que Davos dá à questão ambiental soa estranha para um Fórum que reúne os ricos do mundo. Afinal, são eles que ontem e que hoje fizeram e fazem dos recursos naturais a matéria prima de suas fortunas. Davos mira no debate ambiental, pois não tem o que dizer sobre a economia do mundo, que anda de mal a pior.