É tradicional: sempre que um ano acaba, as retrospectivas começam. Premiam-se os melhores na TV, no cinema, na música, nos esportes. Na nossa vida pessoal, também olhamos para trás, para o que passou. Rememoramos dores, alegrias, perdas e conquistas. Lembramos das pessoas queridas que se foram. Celebramos os amigos que chegaram. Este momento que agora vivemos é, indiscutivelmente, um período de transição.
Mas se tem algo maravilhoso que todo o término de ciclo traz consigo, é a capacidade de recomeçar. Eu sei que a virada do relógio de 31 de dezembro para 1º de janeiro é, aparentemente, algo corriqueiro, afinal, todas as meias-noites dos últimos 363 dias foram iguais: terminamos um dia para dar início a outro.
Entretanto, não posso deixar de enfatizar o quanto a magia deste período o torna diferente. Adaptados a uma rotina intensa e, por vezes, mecânica, somos acostumados a levar a vida no modo automático. Em muitas situações nem pensamos, apenas agimos ou resistimos para sobreviver. Por isso, viradas como a de logo mais são incrivelmente interessantes para respirarmos, renovarmos o nosso compromisso com a vida e, mesmo diante de tantos dissabores, renascer para o novo.
Não posso deixar de citar, no texto de hoje, nosso querido e imortal Carlos Drummond de Andrade em seu poema "O Tempo". Ele mesmo já dizia que “quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial: industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão”.
Drummond cita ainda em sua obra que “12 meses dão para qualquer ser humano cansar e entregar os pontos. É aí, porém, que entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para frente tudo será diferente”.
Entendeu, então, a magia do ano novo? É só uma mudança de data? Sim, aparentemente. Mas se olhada com sensibilidade, trata-se de uma mudança que mexe com nossas emoções, que nos leva a acreditar na possibilidade de construirmos novos caminhos.
No dia a dia, nós, brasileiros, já somos tão vilipendiados, que penso não haver mal algum em conectarmos nossas forças e crenças na possibilidade de um amanhã melhor. Precisamos, inclusive, dessas pílulas generosas de esperança que brotam no horizonte a cada 31 de dezembro. Se não acreditarmos, porque haveremos de continuar existindo?
Lembre-se: o recomeço é uma das maiores belezas que temos hoje, portanto sempre que pudermos recomeçar, é sinal de que Deus (seja qual for o seu), continuará acreditando em nós.
Que tenhamos, todos, um 2023 cheio de recomeços...