Ricardo RodriguesConselheiro da Abrasel-MG, Diretor do restaurante Maria das Tranças e da Cruz Vermelha, Mentor, Palestrante e Consultor Sebrae

Cerveja salgada

30/09/2021 às 15:30.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:58

Essa semana, fomos novamente surpreendidos com o anúncio de um novo reajuste, que impacta diretamente o nosso setor. A gigante Ambev, responsável pela fabricação de mais de 200 marcas de cervejas, entre elas Brahma, Skol e Stella Artois, confirmou na quarta-feira (29) que vai aumentar os preços de seus produtos a partir deste mês.

Esse reajuste chega em um momento nada adequado, já que muitos dos estabelecimentos ainda encontram dificuldades de se manterem abertos e pagarem as contas neste período de retomada. A pesquisa mais recente da Associação Nacional de Restaurantes (ANR) em parceria com a Galunion e o Instituto FoodService Brasil, divulgada no último dia 28 - feita com 800 empresários do segmento de alimentação fora do lar – afirma, inclusive, que 57% dos entrevistados estão com impostos em atraso, 24% têm dívidas com fornecedores e 14% declaram ter pendências trabalhistas.

Sendo assim, não há outra saída que não seja repassar imediatamente o novo valor das cervejas para o consumidor final. Segundo a Abrasel, ele deve subir de 7% a 10%. Esse malabarismo, por sinal, será feito não só pelos bares e restaurantes, mas por todos os segmentos da economia, incluindo os supermercados e distribuidoras.

O preço salgado da "gelada", obviamente, não é fruto do acaso, mas acompanha um movimento de crescente descontrole da inflação brasileira. Prova disso é que, de acordo com dados divulgados pelo IBGE no último dia 24, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), chamado de prévia da inflação oficial do país, acelerou de 0,89% em agosto para 1,14% em setembro, maior nível para o nono mês desde 1994, ano de fundação do Plano Real, quando ficou em 1,63%.

E não para por aí: o resultado de setembro é o maior da série histórica do indicador desde fevereiro de 2016 (1,42%).

Traduzindo todos esses números para um português claro e simples: como se já não bastasse a crise sanitária da pandemia, estamos diante uma das maiores e mais pujantes crises econômicas da nossa história.

Por isso, acredito ser fundamental que os governos criem ou adotem medidas emergenciais de auxílio à cadeia produtiva desse país, com o objetivo de minimizar os custos decorrentes da onda de aumentos sucessivos dos produtos de nossa economia. Em São Paulo, por exemplo, o governador João Doria (PSDB) abaixou o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) para acelerar a retomada do setor de bares e restaurantes. Assim, o imposto voltou a 3,69%, após reajuste para cima em janeiro.

E o que será feito por nós, mineiros? Qual será a bola da vez, depois da cerveja? Seremos ajudados ou esperaremos até que o próximo reajuste seja anunciado? Hoje tenho mais perguntas do que respostas.

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