Hoje vou falar de um problema que, frequentemente, acontece em Belo Horizonte e afeta toda a cidade: a greve dos metroviários. O mais recente movimento, que teve início de forma integral no último dia 15 de fevereiro, chega nesta sexta-feira (3) aos 17 dias de paralisação. Desde então, cerca de 100 mil usuários deixaram de ser atendidos por dia útil. Após quase três semanas sem funcionar, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos de Minas Gerais (CBTU-MG) já calcula prejuízos de R$ 8 milhões.
Segundo a CBTU, esses R$ 8 milhões se referem, inclusive, ao período do Carnaval 2023. Para se ter uma ideia, durante os dias de folia em 2020, o metrô transportou quase 800 mil usuários em todo o sistema, de sexta a terça-feira. A maior parte do fluxo ocorreu na estação Central, que recebeu 150 mil passageiros.
O movimento grevista é conduzido pelo Sindicato dos Empregados em Transportes Metroviários e Conexos de Minas Gerais (Sindimetro-MG), entidade que vem descumprindo uma ordem judicial. Isso porque desde o dia 15, uma liminar proferida pelo vice-presidente do TRT-MG da 3ª Região, o desembargador Dr. César Pereira da Silva Machado Júnior, determinava o funcionamento de 70% dos trens durante a greve. No entanto, todas as 19 estações – de Vilarinho a Eldorado –seguem com os portões trancados.
Nem preciso dizer o quanto essa greve acarretou um problema sério de acessibilidade. A expectativa de todos os setores comerciais de Belo Horizonte, incluindo a Abrasel, era de um Carnaval sem intercorrências, mas com os trens parados, muitos clientes tiveram dificuldades ou sequer conseguiram chegar aos estabelecimentos. Isso sem falar dos atrasos de funcionários que, por dependerem do modal, precisam diariamente encontrar alternativas, como ônibus ainda mais lotados.
Entendo que o direito à paralisação é garantido por Lei, principalmente em uma situação onde o emprego de 1.600 trabalhadores que compõem o quadro da CBTU-MG está ameaçado após a concessão do metrô à iniciativa privada por meio de leilão realizado em dezembro passado. Mas, ao mesmo tempo, é inconcebível que a Cidade Criativa da Gastronomia, terceira mais populosa área metropolitana do país, ainda tenha que conviver com um problema desse porte. É no mínimo amador pensarmos que no Carnaval, quando nossas ruas receberam mais de cinco milhões de foliões, não tínhamos sequer um transporte decente.
Quando comparamos a nossa realidade com outras capitais, como o Rio de Janeiro, por exemplo, onde o metrô funcionou por 24 horas, durante todos os dias de Carnaval, a situação por aqui é ainda mais discrepante, vergonhosa para falar a verdade.
Se pretendemos nos consolidar como a cidade do Carnaval, do turismo e da gastronomia, certas falhas e gargalos já não são mais toleráveis.