Ricardo RodriguesConselheiro da Abrasel-MG, Diretor do restaurante Maria das Tranças e da Cruz Vermelha, Mentor, Palestrante e Consultor Sebrae

Solidariedade no prato

07/10/2021 às 17:45.
Atualizado em 05/12/2021 às 06:01

Desde a última segunda-feira (4), participo de uma ação integrada entre Cruz Vermelha, da qual sou conselheiro e diretor, Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e Centros de Referência de Assistência Social de Minas Gerais (CRAS-MG). A união de forças é formada para a distribuição de 2.500 cestas básicas a famílias carentes que trabalham e vivem nas zonas rurais de cidades como Desterro do Melo, Piau, Goianá e Coronel Pacheco, nas regiões Central e Zona da Mata mineira. Em seguida, a mesma logística será feita nos vilarejos próximos a Mariana.

Por que falar de uma ação social em uma coluna de gastronomia? Simples: antes de despertar o encantamento, gerar renda, empregos e turismo, o alimento está primeiramente ligado às nossas necessidades mais básicas de sobrevivência. E, muitas vezes, quem trabalha na produção do que chega até as nossas abastadas mesas não tem sequer o que comer em suas humildes residências. Irônico e paradoxal, não? Mas essa é mais pura e triste realidade.

Prova disso é que um levantamento recente feito pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) revela que a fome no Brasil avança e atinge, em dois anos, mais nove milhões de pessoas. Isso significa, no total, que 19,1 milhões de cidadãos se enquadram neste perfil, o que equivale a 9% da população brasileira.

Este estudo, realizado em dezembro do ano passado, em 2.180 domicílios das cinco regiões do país, tanto em áreas urbanas como rurais, concluiu ainda que, com a pandemia, cerca de 116,8 milhões de brasileiros estão em algum grau de insegurança alimentar leve, moderado ou grave. Por isso, você que, felizmente, está no conforto da sua casa e consegue se alimentar com dignidade todos os dias, nunca pode esquecer que há muitos, milhares, milhões sem a mesma possibilidade, o que é, sobretudo, um direito básico de todo ser humano.

Sei que essa ação, da qual me orgulho muito de fazer parte, é só uma pequena agulha no palheiro, mas quaisquer iniciativas, independentemente de amplitude, podem sanar as necessidades de alguém. Isso sem falar que não há alegria maior do que chegar em lugares extremamente simples, atravessar pinguelas com uma cesta básica de 40 kg sobre os ombros e receber, em troca, o sorriso de alívio daqueles que, a partir da nossa doação, vão poder se alimentar com qualidade por, pelo menos, 60 dias. 

A sociedade, infelizmente, nos "educou" a agir em nome da troca, da conquista, do agradecimento. Mas, às vezes, é intensamente mais gratificante doar pelo simples fato de doar, pelo prazer de ajudar. São nesses gestos, que todos deveríamos aprender a cultivar, onde mora, talvez, a maior beleza da vida.

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