(BRUNO CANTINI/ATLÉTICO/DIVULGAÇÃO)
BRUNO CANTINI/ATLÉTICO/DIVULGAÇÃO / N/A
Lembro da professora me corrigindo, durante a aula de Língua Portuguesa, que o certo era escrever “xará” e não “chará”, abrindo uma página amarelada do dicionário para provar que estava com a razão. Nada contra Aurélios e outros lexicógrafos que agora abarrotam a estante de casa, mas meu xará é com “ch” mesmo. Xará, todos sabem, é uma cópia, uma imitação ou, na melhor das hipóteses, algo igual, especialmente no que tange aos nomes. Paulo, por exemplo, tem aos borbotões. Mas Chará só há um. Falo com o risco de queimar a língua depois, ao deixar claro que estamos diante da maior contratação atleticana dos últimos anos. Parece cedo, após quatro jogos, botar essa banca no colombiano recém-chegado. Apesar do futebol cambaleante do Atlético pós-Copa do Mundo, meus olhos se refestelaram com a vontade, o posicionamento e a visão de jogo do número 11, levando o ex-dono desta camisa (o venezuelano Otero) ao rápido esquecimento. Qualquer outro jogador teria, no lance do primeiro gol diante do Bahia, tentado o chute, apesar da marcação justa. É tentação demais estar tão perto da meta e não arriscar para ver o que dá. Chará me surpreendeu ao se preocupar mais em ajeitar a bola e prepará-la para quem vinha de trás, encontrando o volante Matheus Galdezani, autor do gol. O colombiano de Cali é a junção de Cazares (quando este está num boa dia, claro), pelo bom domínio de bola em espaço curto e pela maneira de ver o jogo; de Róger Guedes, por se posicionar bem e buscar o gol constantemente; e do maluquinho Luan, em sua disposição que contamina até mesmo o mais tímido torcedor na arquibancada. Chará não é mais um. É um jogador único. Surpreende a celeridade como se adaptou a Belo Horizonte e ao futebol do país. É como se a capital mineira fosse Cali, conhecida como a “Sucursal do Céu”. Não por acaso, o anúncio de sua contratação se deu num dia 12 de junho, reforçando a ideia de feito um para o outro, em que o beijo na camisa não sai “da boca para fora”, como as bitocas técnicas das novelas. E já que falamos na Divina Providência, posso estar enganado, mas sou capaz de cravar que Yimmi – primeiro nome de Chará– é uma variante de Jimmy, aparentando de Jacó e Jaime. Jacó, em hebraico, quer dizer “aquele que vem do calcanhar”, parte do corpo humano que reúne a força (da perna) à direção (do pé). Para quem gosta de História, Jacó ganhou esse nome por nascer segurando o calcanhar do seu irmão gêmeo Esaú. Assim temos quase uma redundância em Yimmi Chará, a partir de seus duplos, apesar do sobrenome (Zamora) apontar que nada será fácil como se imagina – “No se ganó Zamora em uma hora”, diz o antigo provérbio espanhol. Zamora é uma cidade que, em 1072, foi sitiada por sete meses pelo exército de Sancho, rei de Castela que enfrentou os altos muros e a resistência testada ao limite dos zamoranos. Sete meses se passaram e o torcedor se mantém crente de que temos um trunfo (um suposto traidor, que conseguiu se aproximar de Sancho e matá-lo) para “degolar” os que estão nas cabeças do Brasileiro. E esse trunfo pode muito bem ser Chará.