(Bruno Cantini/Atlético/divulgação)
Bruno Cantini/Atlético/divulgação / N/A
Meu tio, lá do interior, viu o clássico pela primeira vez e, ao final da partida, depois de muito matutar, ainda mascando fumo, observou que “o Atlético ainda está na fase de plantio e que a colheita logo virá”.
Usando a agricultura como comparação, tio Vaduca, que tem os maiores hectares de Bom Despacho e adjacências, salienta que o retorno é mais demorado quando há uma mudança de cultivo como a que o Galo promoveu.
Sem dinheiro, o clube perdeu seus medalhões e passou a adotar a reserva de alimentos que dispunha, reaproveitando jogadores como Danilo, Patric, Hyuri e Carlos, enquanto preparava a terra para plantar algo diferente.
É como, continua titio, trocar o trigo e o milho, alimentos que estão na base da nossa alimentação, por ervilha, chia e grão-de-bico. Como um galo acostumado a milho poderia aceitar de imediato um time de grãos e sementes?
No dicionário, grão significa uma minúscula parcela. Mais enxuto, o Atlético foi atrás de jogadores emprestados e baratos, mas com um custo/benefício melhor. Em nossos tempos, seria chamado de fit.
Basta olhar para Erik e Róger Guedes, jovens, talentosos e com uma disposição que Robinho e Fred não exibiam. No jogo passado, Erik entrou na área, saiu “catando cavaco”, como diz Vaduca, e não caiu pedindo pênalti. Queria fazer o gol.
Róger não gostou de sair de campo contra o Figueirense, uma vontade que contrasta com a época recente em que era mais comum ver jogador sinalizando a troca para o banco de reservas, buscando preservar-se.
A Beth, minha esposa, que entende de alimentação saudável, enxerga na dupla uma semente chamada chia, até pouco tempo desconhecida no país. Ela gosta de dizer que, para quem quer resultados, não há melhor opção.
Chia é sinônimo de energia e resistência. Não por acaso, é a palavra maia para força. Era usada por pela antiga civilização da América Central no momento em que seus guerreiros partiam para longas batalhas e caçadas.
Elias, volante apenas no papel, seria o grão de bico, que leva àqueles que o ingerem a se sentirem completos. Com o jogador marcando, dando passe e chutando a gol, só falta ele querer atuar no gol também.
A Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas fez de 2013 o Ano Internacional da quinoa. O ano está marcado na história do Atlético e, no elenco atual, quem traz essa lembrança é o goleiro Victor.
Chamada de “superalimento”, a quinoa tem tudo a ver com o número 1. É o alimento das estrelas, como diz uma lenda peruana, sobre um jovem aimará que voltou dos céus com uma quinoa como presente de sua amada.
Léo Silva e Ricardo Oliveira parecem não sentir o peso da idade. Por isso, nada mais natural do que compará-los à linhaça, um importante antioxidante, usado no tratamento de feridas e até na preservação das múmias do Egito.
Todos eles são alimentos que necessitam de um tempo para serem cultivados. Lembro do meu tio revolvendo a terra, para, segundo ele, tirar as crostas e as pedras que podem prejudicar o crescimento mais tarde. Valdívia foi uma delas.
Quando fui à coletiva pós-clássico, para ouvir Thiago Larghi falar, enxerguei nele um agricultor, à espera da colheita. Que não seja de abacaxi, que leva cerca de dois anos para começar a dar fruto.