(Bruno Cantini/Atlético/Divulgação)
Bruno Cantini/Atlético/Divulgação / N/A
Quando ouvi a referência ao livro “As Mil e uma Noites”, durante apresentação de contação de histórias no Cine Santa Tereza, acabei me prendendo à ideia de um harém em que cada campeonato disputado simultaneamente pelo “sultão” Atlético ganharia a forma de uma mulher.
Ok, poderia ser um harém de homens, para não soar algo machista, mas, além de não conseguir conceber uma beleza masculina, o Galo é um clube (está lá no nome, Clube Atlético Mineiro), diferentemente de Chapecoense e Ponte Preta, únicas equipes da série A do Brasileiro que podem ser precedidas pela letra “a”.
Não é uma regra, já que Palmeiras resolveu abolir o “a” de sua Sociedade Esportiva Palmeiras. Mesmo antes de virar Palmeiras e adotar o verde, quando ainda usava o nome Palestra Itália, um substantivo feminino, diz-me o dicionário, o artigo masculino se eternizara como a calça vinho de Cuca.
Roger Machado, por sua vez, virou garoto propaganda das roupas sociais com a marca do Galo. Nos últimos jogos, não abre mão da camisa preta de botão, com um Galo branco singelo na altura do peito. É o retrato do time em campo, que exibe uma atuação discreta, longe de ser empolgante.
O problema talvez esteja em qual mulher priorizar. Mesmo um sultão tem as suas preferidas. Para muita gente, o Atlético deveria lutar pelo Brasileiro em busca de um título que não vem desde 1971. Após oito rodadas, porém, acho que essa odalisca está mais para uma Sherazade, enrolando o sultão para ganhar tempo.
Claro que a ideia do governante era matar a garota assim que tivesse uma relação mais íntima, para vingar a traição da esposa, mas Sherazade seduziu com histórias o sultão e evitou o seu trágico fim. O Brasileiro é justamente isso: sedutor, cheio de histórias emocionantes, mas tão distante para o Galo.
A Libertadores parece uma ex-namorada minha: começamos como um amor louco, entregues um ao outro, cada um compreendendo as limitações do parceiro. Mas, de uma hora para outra, tudo pode se perder, com um Dátolo ou Marcos Rocha entregando a bola de bandeja, e babau.
Descobri que babau tem origem no folclore, sinônimo de mamelungo, e está acoplado a um gesto de passar o dorso da mão no queixo (e uma careta irônica, complemento meu). O “Dicionário do Folclore Brasileiro” explica que babau é a baba e o momento de enxugar o queixo se refere à ideia de quem babou e não comeu.
Assim pode ser o Atlético daqui a alguns dias. Depois de se tornar o líder geral da fase de grupos, tudo pode se perder por causa de um piloto de avião, como nos filmes românticos, em que o pobre coitado é abandonado pela esposa e trocado por um piloto (sinal de liberdade), embarcando para sempre no avião dele.
Em se tratado de avião boliviano, todo cuidado é pouco. Não podemos deixar que Jorge Wilstermann dê uma de Jorge Tadeu, aquele personagem de Fábio Jr. na novela “Pedra Sobre Pedra”, um senhor amante que, mesmo depois de morto, continuava despertando paixões nas mulheres de Resplendor.
Também há um fetiche por Copa do Brasil. Sem jogos no exterior e restando seis partidas para levantar a taça, surge como algo fácil, próximo e tão bom quanto o Brasileiro, oferecendo os mesmos atrativos, em especial a vaga na Libertadores e um título bastante cobiçado.
Mas com o Grêmio pelo caminho, parece ser uma fria, não só pela decisão de 2016, mas porque o time porto-alegrense passeia por 2017 com um motor Ferrari, acelerado e sem hora para pifar. Nesse sentido, só nos resta ser um Felipe Massa, torcendo para os outros à frente quebrarem.
Por fim, a Primeira Liga, que pode ser tudo menos primeiro de alguma coisa. Praticamente todos os participantes usaram reservas no torneio. Se bem que, no caso do Galo, é difícil saber quem é reserva ou titular, especialmente na lateral-direita, transformando numa espécie de “campo minado”.