Aqui é Galo!Paulo Henrique Silva é jornalista do caderno Almanaque e escreve sobre o Atlético

O genérico que faz bem

01/10/2018 às 17:57.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:44
 (Bruno Cantini/Atlético/divulgação)

(Bruno Cantini/Atlético/divulgação)

Bruno Cantini/Atlético/divulgação / N/A

  

Meu sobrinho chora ouvindo Legião Urbana e diante de filmes de super-herói, especialmente do Capitão América. Por isso preferi não insistir com ele para ir comigo ao Independência no domingo – um novo resultado ruim seria demais para ele, que sempre deixa a emoção falar mais alto, coisa do gene da mãe, creio.

Antes de fechar a porta da sala, falei com ele que, enfrentar o Sport após uma derrota amarga para o Flamengo, exatamente uma semana depois, tem o mesmo efeito de um touro quando vê a capa vermelha balançando (a chamada muleta), partindo com todo ímpeto em direção ao toureiro.

Era jogo para extravasar a raiva, ainda que o Sport fosse um rubro-negro genérico, cambaleante na tabela. O que ficou claro no número de torcedores no estádio – mais de 22.600, recorde do Independência II, transformado em praça de touros na maneira como a Massa exigia, eufórica, a capitulação do adversário.

Lembrei-me dos filmes passados no Império Romano, quando o público dos coliseus fazia o gesto da mão com o polegar para baixo. Na verdade, isso não passa de lenda, já que o dedão poderia variar para qualquer direção que o significado seria o mesmo: a morte do gladiador derrotado na arena. 

Assim como os gols do Galo vinham das formas mais diversas, com bola atrasada para Elias arrematar; em pênalti cobrado pelo infalível Fábio Santos – oito cobranças como batedor oficial, oito gols; e no malabarismo de Emerson para manter a bola no ar e mandar um balaço para a meta de Magrão.

E que beleza foi ver Cazares na plenitude de sua sapequice, fazendo assistência para ele mesmo ao perceber o erro do zagueiro no momento de tirar a bola da área. É o nosso Saci, aquele ser folclórico que faz os viajantes perderem o rumo – e parece que foi isso que o Sport sofreu ao levar quatro gols só no primeiro tempo.

Seria o Independenciazzo, na maneira como os recifenses viveram o seu apagão, se o alvinegro não puxasse o freio de mão, até demais na minha avaliação, deixando o Sport ressuscitar no jogo. Mas como Saci é, de acordo com a mitologia, a divindade do controle e da sabedoria, bastou um lançamento preciso para RO desencantar.

RO estava em xeque, cobrado pela torcida pelo baixo desempenho após ter renovado seu vínculo com o Atlético. Pôs a bola na rede como um matador tem por ofício e depois plantou bananeira, cena que não poderia ser melhor para fechar o resumo de uma partida em que só faltou ao Galo fazer chover.

Thiago Larghi acertou ao tirar Elias, Cazares e Luan de campo, nos instantes finais, quando já estava tudo liquidado. Talvez não porque precisavam sair naquele momento, por cansaço ou deficiência técnica. E sim porque seria a melhor forma de retribuir tanta entrega durante o jogo, sendo ovacionados pela torcida.

Agora resta saber se o alvinegro terá a mesma facilidade com a bola diante dos “de marca”. Na nossa rota estão Palmeiras, Internacional e Grêmio, todos eles brigando pelo título do Brasileiro. Genérico, similar ou de marca, o importante é saber a dose correta, que nunca pode ser menos do que 100% de entrega. 

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