DIVULGAÇÃO / N/A
Sempre defendi que deveriam criar algo do tipo “lei do rompimento”, um período de carência para que a parte abandonada pudesse se recuperar. Não foi fácil, ainda lembro bem, ver a Thais terminar comigo por telefone e, no dia seguinte, encontrá-la na festa de um colega comum, de braço dado com outro, fingindo surpresa ao me ver, apresentando-me como um friend. Amigo de ex é eufemismo para “pobre coitado”, algo que todos os convivas pareciam secretamente dizer.
Mesma estranheza sinto agora com Lucas Pratto. Por mais que sua despedida fosse anunciada, as poucas horas de diferença entre participar do último treino com a camisa alvinegra e ser apresentado no São Paulo foram dolorosas para qualquer atleticano. Depois que ele marcou um gol no final de semana, quando dei por mim já tinha feito em pedacinhos o estojo do ursinho Pooh da minha filha. Por via das dúvidas, o Breno escondeu o boneco He-man dele, caso Rafael Moura saía do Galo.
Eu me senti como um Leonardo DiCaprio naquele filme “O Regresso”, ao sofrer o ataque brutal de um urso, numa floresta invernal. Na trama, um colega de expedição o abandona propositadamente, alardeando que ele estaria morto. No baralho cigano, a carta 15 ilustrada por um urso é representativa da falsidade e da falta de respeito. Fui buscar amparo na internet e descobri um site voltado para traídos, que explica a sensação como uma variação da morte, um apagão do Sol.
Por mais que eu torça para o Pratto desaprender a jogar futebol e amargar o banco de reserva, tornando-se um dos piores investimentos do São Paulo nos últimos tempos, é preciso admitir que nosso ataque não passou por nenhum eclipse solar. Por sinal, o setor vai contra qualquer ideia de economia de energia, um desperdício tão grande que o Horário de Verão não conseguiria resolver. Tão iluminado que é capaz de provocar um efeito inverso, de fotofobia.
O maior problema do Atlético de 2016 foi ser ofensivo demais, descuidando-se da defesa. Roger Machado foi escolhido por ser uma espécie de timer, cortando a energia gasta à toa, ligando-a somente quando necessário. Nesse novo esquema, Pratto era como uma fuga de corrente, como são chamados os vazamentos de eletricidade. Hoje o Galo joga com um homem de área e dois meias que, passando do meio de campo, viram pontas. Os laterais não precisam ir ao ataque com tanta frequência, ocupando o lugar deixado por esses meias.
Pratto seria uma ótima alternativa de banco, assim como Maicosuel, mudando o sistema, principalmente diante de um time mais retrancado, quando há necessidade de mais força, penetração e jogadas individuais. Como um ídolo e artilheiro pode chegar a uma situação dessa é o que faz do futebol uma ciência curiosa. Comparado ao estudo da eletricidade, é a passagem de uma corrente contínua para alternada, mais eficiente, em que os elétrons invertem seu sentido várias vezes.
Assim, a energia é melhor distribuída, com os jogadores mais próximos uns dos outros, fazendo um movimento de vai e vem e não permitindo grandes perdas. Nesse caso, foi realmente melhor para Pratto buscar uma outra tomada para se plugar. Na Argentina, por sinal, o modelo de tomada elétrica é completamente diferente, além de a voltagem ser de 220 volts e 50 hertz. Teria sido mais fácil para ele, os atleticanos irão concordar comigo, jogar na China, onde o padrão é exatamente o mesmo.