EducaçãoLéo Miranda. Do \“Mundo Geográfico\” - YouTube Marcelo Batista. Do \“Aprendi com o Papai\” - YouTube

Algumas páginas de diferença

09/12/2020 às 20:50.
Atualizado em 27/10/2021 às 05:16

Marcelo Batista (*)
mbatista@hojeemdia.com.br

 Nesta semana acontece a Bienal do livro de São Paulo, entre os dias 7 e 13 de dezembro, totalmente online. O evento, que no ano passado reuniu mais de 600 mil pessoas, devido à pandemia terá que ocorrer somente pelo site www.bienalsp.org.br. É uma chance perfeita para as pessoas de classe média e alta comprarem um artigo de luxo extremamente raro no nosso país, o livro.

Antes que reclamem da minha ironia, esse foi o argumento utilizado por Paulo Guedes, Ministro da Economia, para defender uma tributação de 12% para os livros, considerados por ele produtos de elite. Pensando por esse lado, usufruir da Bienal de São Paulo é ainda mais interessante, pois talvez seja das poucas oportunidades para consumir os já caros livros disponíveis no nosso país. Vai ficar pior…

Talvez o caminho tivesse que ser o contrário: a luta pela popularização da leitura na sociedade brasileira, algo que iria na contramão do que ocorre atualmente. Com a desvalorização e a elitização da leitura é cada vez mais raro que indivíduos de classes baixas e na maioria das vezes negros consigam  ter acesso aos livros dos mais diversos tipos. Na maior parte das vezes, nas escolas públicas, os livros são artigos raros, as bibliotecas, quando existem, são ultrapassadas e com pouquíssimos exemplares, com livros que apresentam principalmente os clássicos da literatura, que muitas vezes despertam pouco interesse na juventude, que frequentemente ainda derrapa pelos desafios do analfabetismo funcional.

Mas e se a população tivesse mais acesso à leitura? Se houvesse um grande acervo ou bibliotecas móveis atendendo a pessoas que vivem na periferia ou descontos para alunos de escolas públicas? Certamente ficaria bem mais fácil para os professores de escolas públicas trabalharem temas diversos, para desenvolver as habilidades de leitura e escrita e para gerar a redução do analfabetismo funcional, algo tão importante no Brasil

Durante a infância pude acumular alguns importantes privilégios: nasci branco, de classe média, com acesso à educação de qualidade, mas talvez a o meu maior privilégio tenha sido receber incentivo à leitura desde pequeno. Ainda lembro do meu pai me levando aos domingos às livrarias e me deixando escolher o que quisesse para ler. Isso foi fundamental para me fazer me interessar pela leitura e ampliar as minhas possibilidades de manutenção da condição social.

Enquanto isso, a desigualdade permanece. Infelizmente, no Brasil há muita diferença entre os indivíduos de pele alva e pele alvo, como diria Emicida. Enquanto aos de pele alva resta a leitura e a educação, às pessoas de pele alvo, como Emily Victoria, de 4 anos e Rebeca Beatriz, de 7 anos, foram alvejadas enquanto brincavam na porta de casa, nesta semana. Emily, a mais nova, foi enterrada com o vestido de Moana que usaria no seu aniversário, que seria no próximo dia 23. É o único lugar onde as histórias de livros e filmes infantis ainda se encaixam para as crianças de classe baixas no Brasil.

(*) Marcelo Batista é educador há mais de 15 anos e fundador do canal Aprendi com o Papai, no Youtube.

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