Léo Miranda*
Todos os anos os meses de novembro e dezembro representam para professores, alunos e todos envolvidos na educação um momento de encerramento das atividades escolares. Notas a serem fechadas e conferidas, recuperações, conselhos de classe finais, planejamentos do ano seguinte, um ritual já introjetado na rotina de conclusão do ano que se aproxima do final. O momento seguinte é aquele tão aguardado pela chegada da reta final: as férias! Para os professores o período de um pouco mais de um mês, representa mais do que o descanso, é também um momento de organizar a vida, o que ficou pelo caminho, a casa, o relacionamento, a família, as contas, a saúde e tudo mais que ao longo do ano tenha ficado para trás. Falando assim parece que nada além de lecionar foi feito ao longo do ano, porém considerando que o trabalho de um professor não acaba com fim do horário da aula, essa é a realidade cotidiana. A profissão professor assim como outras também exige renúncias, que fazem parte da escolha profissional. Contudo, os últimos dois anos de pandemia de Covid-19 trouxeram à tona uma realidade muito mais cansativa do que o de costume e as renúncias tornaram-se maiores e mais numerosas.
No caso de 2021, a mudança do ensino on-line para a modalidade híbrida, com parte dos alunos em sala e a outra parte em casa, resultou em novos desafios e uma necessidade de performance ainda maior, afinal, o professor passou a ter que lidar com duas realidades na mesma aula. Tudo isso somado, potencializou o cansaço de quem já não estava descansado há muito tempo. Mas eis que chegam as férias. O que fazer agora? O ócio tem andado distante das nossas vidas (não só das dos professores), e cada vez que o adjetivamos também o descaracterizamos, como por exemplo no chamado “ócio criativo” ou no “ócio produtivo”. No meu caso e da maior parte sociedade pós-moderna, desacelerar é um desafio.
No entanto, a questão é: será que precisaremos aguardar sempre a chegada das férias para fazer aquilo que não fizemos (ou que gostaríamos de ter feito) ao longo do ano? Será para além de sobreviver, podemos viver, ou dar algum sentido diferente do rotineiro às nossas experiências cotidianas? O filósofo Byung-Chul Han em seu livro A agonia do Eros diz: “o que simplesmente sobrevive se parece com um morto-vivo, que é por demais morto para viver e que é por demais vivo para poder morrer”. Essa perspectiva parece um tanto romantizada em um país como o Brasil em que milhares de pessoas tem sobrevivido, não porque querem, mas porque essa é a única opção que lhes resta, pela baixa remuneração, desemprego, fome e todas as mazelas sociais que foram amplificadas na pandemia. Todavia, a fala de Byung não deixa de ser útil à reflexão, principalmente em meio ao esvaziamento do sentido dos dias. Na sala de aula, na vida, nos relacionamentos, onde quer que ela caiba.