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Intolerância e Educação

Publicado em 10/02/2022 às 06:00.

Léo Miranda*

No dia 24 de janeiro assistimos estarrecidos mais um episódio de racismo e xenofobia, a morte do jovem congolês Moïse Kabagambe, de apenas 24 anos, brutalmente assassinado em um quiosque na praia da Barra da Tijuca no Rio de Janeiro. Moïse, um dos milhares de imigrantes em situação de trabalho muitas vezes análogas à escravidão, chegou ao Brasil motivado em busca de trabalho e uma vida diferente da que vivia na República Democrática do Congo. Kabagambe, nas palavras de seu irmão, acreditava que juntamente com sua família seria bem recebido no Brasil, uma suposta “democracia racial”, que o acolheria bem como aos seus familiares. O que Moïse não imaginava é que nas entranhas da sociedade brasileira vigora o racismo estrutural, de origem histórica e que está presente todos os dias na vida de 54% da população brasileira, das mais variadas formas, principalmente a morte.

Possivelmente, o jovem congolês não supunha também que assim como os um pouco mais de 800 mil imigrantes presentes em território brasileiro, enfrentaria além do racismo a xenofobia por sua origem estrangeira, bem como a associação de sua condição a trabalhos precários e quase sempre abusivos. Mas a história de Moïse não está só, em uma semana em que os fatos associados a intolerância se multiplicaram nos noticiários. Um deles, a morte Durval Teófilo Filho, homem negro de 38 anos, assassinado com três tiros por um vizinho ao sair do carro para tentar acionar o portão automático do prédio onde morava com a esposa e uma filha. Em depoimento o vizinho e sargento da marinha que efetuou os disparos disse ter confundido Durval com um bandido, versão que só reafirma todo o racismo arraigado na sociedade brasileira resumido nas palavras emocionadas da jornalista Maju Coutinho: no Brasil, “preto parado é suspeito, e correndo é culpado.”

A mesma Maju, apresentadora do Fantástico, anunciou no último domingo (06/02) em meio a exibição do programa a chamada para a reportagem “Pessoas com deficiência são vítimas de ódio nas redes”. Nessa reportagem a equipe do Fantástico entrevistou pessoas que sofreram e ainda sofrem ataques nas redes por sua deficiência. Um dos mais impressionantes relatos foi do pai de uma criança de três anos com Síndrome de Down, que passou a receber mensagens de ódio contra o seu filho, quando a família queria apenas registrar o dia a dia do filho, as conquistas e desafios, de uma forma leve e altamente instrutiva.

 O que os três fatos aqui relatados têm em comum? Mais do que a discriminação, todos eles registram a intolerância e a violência contra o outro, o diferente. É exatamente nesse ponto, lidar com as diferenças que entra a educação. É na escola ou pelo menos deveria ser, que aprendemos a lidar com o outro, o diferente, pois assim todos somos. Mais do que nunca, os episódios de intolerância reforçam o papel da troca, da socialização e da necessidade de abordagens pedagógicas inclusivas. Na diferença nos encontramos, enquanto pessoas e seres humanos.

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