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Negacionismo científico: até quando?

Publicado em 24/02/2022 às 06:00.

Léo Miranda

As chuvas intensas deixaram um rastro de destruição e morte na cidade de Petrópolis na última semana acenderam novamente o alerta para a falta de planejamento público e negligência diante das mudanças climáticas e das características geográficas da cidade. O município que abrigou a família imperial até o século XIX sempre sofreu com chuvas volumosas e deslocamento de encostas. Isso ocorre em virtude da combinação geográfica de terrenos de alta declividade e ventos úmidos soprados do mar, convertidos em chuvas orográficas, aquelas formadas pela interação entre o ar quente e úmido com o terreno acidentado do litoral fluminense. Em apenas três horas choveu o previsto para todo o mês de fevereiro para Petrópolis, algo próximo a 230 mm. A população avisada por sirenes não teve muito tempo, muito menos para onde fugir diante do prenúncio da tragédia. O resultado foi até o momento em que escrevo esta coluna 190 mortos e mais de 85 pessoas desaparecidas, número assustador e que dá a dimensão do ocorrido.

Tão logo as imagens e vídeos passaram a circular nas redes e na imprensa, os gestores públicos se manifestaram em solidariedade às vítimas da tragédia e a toda a população petropolitana. O que chamou a atenção foi a divulgação do Portal da Transparência de que apenas uma parte do orçamento previsto para o combate a desastres naturais havia sido utilizado. Ou seja, mesmo diante de episódios semelhantes, como os de 1988 e 2011, não houve o devido investimento do que no contexto atual convencionou-se como adaptação climática, obras de infraestrutura e habitação que pudessem reduzir os riscos de tantas perdas de vida e materiais, principalmente entre os mais pobres. Eles, por sinal, são e serão os mais afetados por eventos como os ocorridos em Petrópolis nos próximos anos, em virtude do aumento da frequência e volume de chuvas associados à precariedade das condições sociais.

Em resumo, as mudanças climáticas, quando combinadas ao crescimento do negacionismo científico no Brasil, são ignoradas na elaboração das políticas públicas. Essa realidade passa também pela descapitalização e aparelhamento dos institutos de pesquisa e órgãos reguladores aos interesses políticos vigentes no país. Ao mesmo tempo, o aumento dos discursos anticientíficos nos meios digitais, principalmente nas redes sociais, amplia o desconhecimento sobre o impacto das mudanças climáticas na vida de cada ser humano nesse planeta. Na maioria das vezes, essas narrativas atuam como formas de legitimar posições sem nenhum critério científico, mas que são amplificadas pela falta de conhecimento embasado e evidências verificadas na ciência. Vira e mexe alguma dessas “hipóteses” são trazidas para a sala de aula e assumidas por alguns alunos como quem assume a camisa do time de coração. Quando confrontados, muitas vezes preferem o conforto da negação, mais do que a luz dos fatos. Resta saber até quando negaremos a realidade.

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