Léo Miranda*
Todos os anos, assim como muitas pessoas costumam fazer nessa época de festas, passo o Natal junto com a minha família. No último dia 25 não foi diferente, mas nesse em especial tive a oportunidade de escutar e refletir sobre uma das figuras mais importantes na minha criação e história de vida, o meu avô paterno, senhor Rubens Miranda.
Com 83 anos, a história do senhor Rubens traz vários momentos de altos e baixos, como a de muitos brasileiros que assim como ele vieram do interior para a capital para tentar a vida. No caso dele, no entanto, uma particularidade chama a atenção, a trajetória na educação.
Técnico de laboratório dos cursos de biologia e daqueles ligados à área médica por mais de 40 anos na UFMG e quase 50 na PUC Minas, o vô veio de Juiz de Fora ainda muito novo para tentar arrumar um emprego e assim conseguir se casar com a dona Marli, minha avó paterna, na época sua namorada com apenas 13 anos! Eram outros tempos, mas o desejo do senhor Rubens, ou Rubinho, como os amigos de universidade o chamam até hoje, o fez não desistir.
Em 1958 ele veio morar em BH em uma república no Centro da cidade. Enquanto trabalhava para conseguir pagar a moradia e sobreviver, seus colegas de quarto se preparavam para tornar-se médicos. Ele fez de tudo um pouco, de aspirante jogador de futebol do América à ajudante de limpeza. O vô naquela época fazia o colegial à noite (o equivalente ao ensino fundamental hoje), após o trabalho. Foi quando surgiu uma vaga para técnico de laboratório no curso de Ciências Biológicas na UFMG, mas com uma exigência: uma prova de conhecimentos da área! Mesmo sem formação específica, ele dedicou-se à preparação, fez a prova, passou e assumiu a vaga.
Mas a história não termina aí; para falar a verdade, era só o começo. O senhor Rubens, com a ajuda de um “professor catedrático” da UFMG, nas palavras dele, o professor “Didil”, tornou-se uma das referências em Belo Horizonte, em Minas e no Brasil como técnico de citologia e histologia. Mestre das belas lâminas usadas nos estudos de doenças, fez a primeira foto científica com o microscópio eletrônico do protozoário transmissor da Doença de Chagas (o Trypanosoma cruzi), que até hoje estampa livros da área. E foi por essa pesquisa que ele quase foi parar nos Estados Unidos, mas como ele mesmo conta, não podia deixar a sua amada para trás (a dona Marli!). Se ele tivesse ido eu não estaria aqui hoje para contar essa história!
O senhor Rubens, além de ter participado diretamente da formação de vários estudantes – alguns, hoje, professores e colegas de área -, foi também decisivo na minha formação (e de toda a família!). Foi por meio dele que percebi o poder transformador da educação, de vidas e histórias. Foi também por meio do amor dele que aprendi que ensinar é muito mais do que transmitir informações ou ajudar a construir raciocínios: é também acolher e cuidar com a sensibilidade de quem aprende enquanto ensina. Muito obrigado, vô!