EducaçãoLéo Miranda. Do \“Mundo Geográfico\” - YouTube Marcelo Batista. Do \“Aprendi com o Papai\” - YouTube

O professor de 2022

Publicado em 10/03/2022 às 06:00.

Léo Miranda

No último fim de semana assisti a uma palestra do doutor em Comunicação pela PUCRS, Dado Schneider, sobre o cenário da educação em 2022. Logo de início, o palestrante disse algo que me capturou e que me deixou pensativo: a educação ainda segue um modelo vertical, para um aluno que nasceu em um mundo horizontal. Ou seja, enquanto a escolas e professores ainda se organizam em estrutura hierárquica do conhecimento, dos detentores para os receptores, os alunos nasceram e aprenderam que o conhecimento é democrático, acessível a um clique, a uma busca naquele buscador famoso, ou mesmo, naquele vídeo que ajuda com tarefas simples até as mais complexas.

Concordei com o Schneider quando ele disse que a pandemia acelerou esse processo que já estava em curso e que agora nos deparamos com ele quando o nosso aluno chega em sala. Se durante as aulas remotas ele poderia ir ao banheiro a hora que quisesse, prestar ou não a atenção na aula, assistir aulas de pijama ou deitado, agora os alunos se deparam novamente com a escola que deixaram em 2019 (muitos nem se lembram como era).

Por outro lado, as escolas que tiveram que se organizar da forma possível e com as ferramentas disponíveis durante a pandemia e correm atrás para retomar não só os limites perdidos com a flexibilização das aulas, mas também para se reinventar em todo o processo educacional.

A escola de 2022 enfrenta agora o desafio de se democratizar assim como é o conhecimento do século XXI. Nesse caso, o professor tem papel fundamental, que não é apenas do professor “maker”, mago das tecnologias e pirotecnia tecnológica. Até porque no tempo da geração Z, o que para o professor é o ápice da ousadia tecnológica, para o aluno muitas vezes é só mais uma das formas, deles, os professores prenderem a atenção dos alunos por alguns minutos.

Eu como professor, também sinto essa mudança, agora mais do que nunca e tenho me deparado todos os dias com ela, do aluno que tenta se encontrar no espaço da escola e enquanto nós, professores, tentamos o encontrar na aula.

Refletindo sobre esse novo momento comecei a realizar algumas experiências quase sociológicas. A principal delas foi ouvir mais meus interlocutores, os alunos. Ao mesmo tempo comecei a adotar novas estratégias para retomar aqueles limites básicos de sala de aula esquecidos nas aulas remotas, como aquele “posso ir ao banheiro” no meio da fala do professor ou do colega, um certo resgate da empatia e do respeito.

Contudo, percebi que a rigidez e a fala mais firme não surtem muito efeito, mais afastam do que aproximam, em um contexto que o que o professor mais deseja é a atenção dos que lhe ouvem. Talvez esteja aí o problema, nossos alunos também querem a voz, o protagonismo. Resta agora saber como vamos lidar com as novas demandas.

Fazendo uma comparação com o futebol, assim como o técnico precisa ser o gestor dos egos e vaidades do time, o professor talvez tenha que ser o mediador das demandas, mais do que o detentor do conhecimento.

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