Léo Miranda*
Segunda-feira de manhã, entro na sala com aquele bom dia animado e sou correspondido por alguns alunos, enquanto a maioria não nota a minha presença. Rapidamente faço o login na minha conta do serviço de transmissão de aulas, pois na sala virtual alguns alunos também estão à espera do meu bom dia. Nesse caso, o retorno é ainda menor, quiçá alguém fala algo como um “oi” pelo chat, mas ultimamente nem isso tem acontecido. Tento, antes de começar efetivamente a falar sobre o conteúdo, interagir com a turma: “e aí galera, como foi o final de semana?” e logo surgem algumas respostas: “foi bom”, fim de papo. Mas fim de papo com o professor porque, tão logo começo a fazer algumas anotações no quadro, a interação com aqueles que estão ao lado é quase instantânea, o que é normal e saudável depois de quase dois anos de privação do contato físico com os colegas na escola. A questão é que a interação continua mesmo quando introduzo o que vamos falar na aula, como se o assunto fosse o menos importante nesse momento. Cadernos transformam-se em itens dispensáveis; anotações, então, nem se fala. Tudo se resume em um clique: “professor posso tirar uma foto?”. São os tempos pós-isolamento e do ensino híbrido.
O saudosismo logo vem à tona, como se antes da pandemia tudo fosse muito melhor e que no presente tudo tenha piorado. Na verdade, talvez o adjetivo diferente seja melhor para qualificar o que se passa na sala de aula no momento presente. As privações da pandemia claramente modificaram referências temporais e espaciais de todos. Com os jovens estudantes não foi diferente. A escola sempre foi (e possivelmente sempre será) o espaço do encontro, da socialização. O grande desafio é retomar a ideia de que ela é mais do que isso. No meio do turbilhão de expectativas, subjetividades contidas no isolamento social, hormônios contidos e tudo mais, estão os professores em uma tentativa incansável de dar sentido àquilo que falam e fazem para seus interlocutores. A objetividade estrita não parece ser um bom caminho, ao que tudo indica a dura realidade e ao mesmo tempo adaptação ao ensino remoto esgotou, mesmo que temporariamente, a efetividade de uma aula em que o foco é transmitir o conhecimento objetivo sobre algo. Não que ele não seja importante!
Ao que tudo indica, o conhecimento objetivo, fechado, conclusivo por si só não traz muitos resultados nesse momento. Focar no processo, no fazer algo que faça sentido pode ser um caminho, mas também não está claro se realmente esse é um desejo entre os estudantes, talvez seja mais um desejo metodológico e institucional do que real. O que fazer diante do cenário? Também gostaria de saber a resposta, mas acho que, mais que propor um caminho, ou sofrer pela atenção não correspondida dos alunos em sala, escutá-los e entrar no mundo que os cerca talvez ajude entender o que pode ser feito sem, contudo, deixar de lado que a escola é mais do que um espaço de socialização.