EducaçãoLéo Miranda. Do \“Mundo Geográfico\” - YouTube Marcelo Batista. Do \“Aprendi com o Papai\” - YouTube

O saldo do Enem 2020 em 2021

28/01/2021 às 19:44.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:02

Léo Miranda*

No último domingo 24 de janeiro, um pouco mais de 3 milhões de estudantes concluíram o segundo dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2020, menos da metade dos inscritos na prova (6 milhões). A abstenção recorde de 55,3% foi atribuída pelo ministro da educação Milton Ribeiro ao medo pela infecção e a campanha contrária a realização do exame organizada por movimentos estudantis e pelos órgãos de imprensa. Em um panorama de uma prova aplicada em todo o território nacional (a exceção do Amazonas) em plena pandemia e escalada de mortes em quase todo o país, a fala do ministro só reafirma a incapacidade do ministério por ele conduzido de gerir com planejamento o cenário de crise. 

A terceirização da responsabilidade como a apontada pelo ministro na tentativa de justificar as abstenções é sem dúvida a “ponta do iceberg” de administrações falhas a frente de um dos principais ministérios governamentais. É preciso rememorar que a sucessão de erros diante da escalada de casos teve início ainda na gestão de Abraham Weintraub ainda em 2020, negacionista de primeira ordem, sucedido pelo efêmero Carlos Dacotelli, que deu lugar ao atual ministro Milton Ribeiro. Em maio, logo após a saída da Waintraub, ainda sem a definição de um ministro que o substituísse, um lapso de lucidez parecia ter aparecido na condução dos rumos do Enem com a divulgação do adiamento da prova e abertura de uma consulta aos estudantes em relação a nova data de aplicação em 2021. E realmente foi um lapso, pois apesar da escolha majoritária do mês de maio, no final o Enem primeira aplicação ficou para janeiro. 

No meio de todo o caos administrativo os principais interessados na realização do Enem, os estudantes, fizeram o que foi possível diante das condições materiais disponíveis, como também do novo contexto de vida em que praticamente todo o país foi inserido. Enquanto estudantes de escolas privadas dispuseram de metodologias e ferramentas que viabilizassem as aulas online, os estudantes de escolas públicas, maioria no país, tiveram que se adaptar a escassez de recursos e orientação. Em Minas Gerais, por exemplo, os estudantes das escolas estaduais passaram a acompanhar as aulas pelo canal público de tv do estado e a enviar por meio de grupos de um aplicativo de troca de mensagens suas atividades aos professores, que também destituídos de orientação e ferramentas mais adequadas para darem suporte aos seus alunos fizeram o que foi possível. 

A cereja do bolo, em tom negativo, veio com o Enem 2020. Fora as abstenções, o que falar das salas com lotação acima do permitido e estudantes voltando para casa sem que ninguém os comunicasse da situação que com certeza já era de conhecimento dos locais de prova? Mesmo que a eles seja dada uma nova oportunidade de realização das provas nos dias 23 e 24 fevereiro, o dano já está feito, reflexo de uma sucessão de erros, falas desencontradas, negacionismo e falta de planejamento.


(*) É professor de Geografia, graduado e mestre pela UFMG. Também é fundador do canal educacional Mundo Geográfico

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