Leo Miranda (*)
Em meados de março de 2020 o avanço da Covid-19 interrompeu abruptamente o ano letivo de milhares de estudantes no Brasil. Era um cenário ainda desconhecido, em que as dúvidas eram mais abundantes do que as respostas. Para os gestores, professores e pais esse era um cenário que possivelmente passaria rápido e que muito em breve as notícias de controle da doença trariam as boas novas. Contudo, diante do oposto e da falta de planejamento do poder público e privado, logo se viu que situação tardaria a se resolver.
A inércia e falta de recursos lançou os mais de 80% de alunos de escolas públicas no Brasil em um limbo sem fim. Para a maioria deles a pandemia acelerou um processo já em curso o abandono e a evasão escolar. Antes de aprofundar nas causas e consequências desse processo, é importante fazer uma diferenciação entre os termos. Abandono escolar ocorre quando o aluno se mantém matriculado no ano letivo, mas não frequenta mais as aulas. Por outro lado, a evasão escolar se dá quando o aluno não está mais matriculado e por consequência não frequenta o ano letivo em algum nível educacional.
De acordo com os dados da PNAD Contínua de 2019, realizada pelo IBGE e que considera dados de 2018, 11,8% dos jovens dos jovens entre 15 a 17 anos estão fora da escola o que em números absolutos corresponde a 1,1 milhão de habitantes. A pesquisa revelou que em sua maioria os estudantes que abandonaram ou evadiram da escola são homens, pretos ou pardos e de baixa renda. Com o cenário pandêmico instalado, as motivações para a desistência dos estudos ampliaram-se alinhadas a inércia do poder público e a exclusão digital. Os prognósticos não são nada animadores, a cada mês em que as escolas permanecem fechadas e em que o país mergulha em uma crise econômica grave, são escancarados todos os problemas estruturais da educação no país, inclusive aqueles que estão relacionados a pouca atratividade pedagógica e metodológicas que o ensino tradicional oferece.
Em entrevista ao podcast “O Assunto”, o chefe da área de educação do Unicef, Ítalo Dutra, afirma que os estudos apontam que mesmo os alunos que permanecerem matriculados em algum nível educacional no Brasil terão de conviver com o atraso escolar e com sucessivas reprovações, o que só catalisa o abandono e a evasão.
A interrupção dos estudos faz com que jovens ingressem de forma precária no mercado de trabalho, que se exponham mais a instabilidades econômicas. Para além dos impactos aos estudantes, o estudo Consequências da Violação do Direito à Educação do Insper e da Fundação Roberto Marinho apontam que para cada jovem que não conclui a educação básica, há uma perda de R$372 mil por ano, o que totaliza R$ 214 bilhões, ou 3% do PIB brasileiro. Diante dos fatos, a Covid-19 só escancarou a ferida histórica do país. Ela repercutirá pelos próximos anos na ampliação da pobreza, da informalidade e do subemprego. É inevitável a pergunta: a quem interessa depreciação da educação brasileira?
(*) É professor de Geografia, graduado e mestre pela UFMG. Também é fundador do canal educacional Mundo Geográfico