Léo Miranda*
A pandemia de Covid-19 nos trouxe a certeza de vivermos um momento trágico, mas ao mesmo tempo histórico, assim como foi com Peste Negra no século XIV e a Gripe Espanhola em 1918. Em ambos os casos o momento posterior as mais de 250 milhões de vidas perdidas trouxe ensinamentos que conduziram as nações mais atingidas a mudanças não só sanitárias, mas também científicas e comportamentais nas sociedades que as viveram. Em perspectiva o principal legado das duas pandemias está relacionado ao que não fazer, mais do que o que fazer em relação à propagação das doenças.
Se na Europa o elevado número de mortes conduziu a uma gestão de crises sanitárias mais cuidadosa e científica, no Brasil o mesmo resultado não foi observado, mesmo que a gripe Espanhola tenha levado 35 mil pessoas a morte em todo o país. No caso mais recente, o da Covid-19, o filme se repete por meio da errática atuação governamental, mais preocupada a negar do que afirmar o que a história revelou como o mais correto a ser feito: dar voz a experiência alheia e a ciência. O problema todo é que essa postura já resultou em quase 250 mil vidas e histórias perdidas e parece não sensibilizar a anestesiada população brasileira.
Apesar do cenário negacionista e de falta de empatia, é preciso lembrar de histórias que nos trazem esperança de dias melhores. Em geral elas estão apoiadas em um alicerce central: a educação. O que dizer de um país que em sua história gestou mentes como a de Machado de Assis, Tom Jobim, Chico Buarque, Miguel Nicolelis, Marcelo Gleiser, Mario Ségio Cortella, Djamila Ribeiro, Dra. Margareth Dalcomo, Dr. Dráuzio Varela entre tantos outros. A história construída por eles mostra um Brasil diferente, realmente protagonista na construção de seu próprio caminho.
Outro exemplo recente reafirmou o papel que a educação tem na mudança de vida das pessoas foi revelado pela história do pernambucano Gilberto, participante do Big Brother 2021. Gil, como é conhecido pelo público, revelou em uma conversa na casa sua história de dificuldades até chegar à sonhada universidade e como essa conquista foi um marco na vida dele e da família. Semana passada o doutorando em economia, sem saber, deu mais um passo na direção na bela trajetória. Ele obteve a aprovação no programa de pós-doutorado nas universidades estadunidenses da Califórnia e do Texas. A história de Gil com certeza não é a única, temos milhares de mentes brilhantes em todo o país que de alguma forma conseguiram romper com cruel desigualdade de oportunidades que vigora há muito em nosso país. Somadas, todas essas histórias demonstram como podemos e devemos sair da maior crise sanitária e por que não, social da história brasileira. Resta saber como faremos isso, como também qual legado social, científico e educacional a pandemia da Covid-19 deixará.
(*) É professor de Geografia, graduado e mestre pela UFMG. Também é fundador do canal educacional Mundo Geográfico