EducaçãoLéo Miranda. Do \“Mundo Geográfico\” - YouTube Marcelo Batista. Do \“Aprendi com o Papai\” - YouTube

Rir é um ato de resistência

19/01/2022 às 19:45.
Atualizado em 21/01/2022 às 12:16

Marcelo Batista*

O início de janeiro brindou os estudantes que concluíram o ensino médio com três vestibulares de grande relevância: a reaplicação do Enem, nos dias 9 e 16; a prova de 2ª etapa da Unicamp, nos dias 9 e 10 e a 2ª etapa da Fuvest, nos dias 16 e 17. As provas de redação dessas avaliações servem como um episódio à parte em um contexto de discussões diversas sobre a possível politização de provas de vestibulares.

A reaplicação do Enem trouxe como tema “O reconhecimento da contribuição das mulheres nas ciências de saúde no Brasil”, um tema, no mínimo curioso. Se o governo analisa ideologicamente o conteúdo das provas do Enem, parece que a prova de reaplicação foi esquecida. Em um contexto de redução dos investimentos científicos no Brasil desde 2019, quando o ex- Ministro da educação Abraham Weintraub afirmou que as universidades são locais de balbúrdia ou de plantio extensivo de maconha, o tema coloca muitos pontos importantes em evidência. É no mínimo um ato de resistência do Inep, tão contestado pelo governo, utilizar esse tipo de recorte na proposta, pensando em todo o contexto de negacionismo, defendido por muitas autoridades políticas, no que diz respeito às vacinas contra a Covid-19 e à defesa de tratamentos sem eficácia comprovada.

E se engana quem pensa que o lado contestador ficou somente na reaplicação do Enem. Em uma das propostas de redação da Unicamp foi solicitado que o aluno produzisse um manifesto, colocando-se como um estudante que, apesar de ter um excelente desempenho acadêmico, não conseguiu ter acesso a uma bolsa de iniciação científica devido ao corte de verbas na universidade. Certamente foi a chance de vários estudantes representarem seus pares que, já na universidade, passaram pela situação colocada na proposta de redação. A cobrança do manifesto é uma possibilidade para os estudantes manifestarem seu posicionamento e toda a sua indignação sobre o ensino superior brasileiro, visto que o gênero proposto e o tema da redação oferecem essa possibilidade.

Já a prova da Fuvest, no último fim de semana, cobrou também um tema de certa forma inesperado para a maioria dos estudantes: As diferentes faces do riso. A proposta dava espaço para que o aluno abordasse sobre o riso no sentido de demonstração de alegria e positividade e ao mesmo tempo em situações de escárnio, deboche e até mesmo bullying. A proposta foi de fato ampla e poderia tratar sobre vários possíveis recortes, inclusive sobre a utilização riso como uma forma de resistência, parafraseando o falecido ator Paulo Gustavo. As provas de redação dos vestibulares que abriram o ano de 2022 são uma excelente possibilidade, de fato, para o riso: da resistência, do alívio, da esperança e até mesmo da alegria de vários estudantes, que, pelo menos nas propostas de redação se sentiram representados e com a possibilidade de criticar aspectos de um contexto político sombrio e desagradável para a maioria dos vestibulandos, com um futuro cada vez mais incerto.

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