Léo Miranda
Na última semana, para ser mais preciso segunda e terça-feira, tive uma das experiências mais belas e singelas como professor. Ao chegar para o meu primeiro dia de aulas nas turmas do primeiro ano do ensino médio de uma das instituições em que leciono, fui recepcionado pelos estudantes de uma forma muito carinhosa e emocionante. Palmas, quadro cheio de frases e bordões que sempre uso durante as aulas, bilhetinhos, uma verdadeira festa! Foi difícil conter a emoção e a empolgação em rever antigos e conhecer os novos alunos, principalmente porque quase todos compartilharam comigo um dos momentos mais difíceis da educação de 2021: o ensino remoto e híbrido. Os meses em que nos comunicamos apenas virtualmente ou de forma parcialmente presencial, foram desafiadores, como para todos os colegas professores e estudantes do país. O meu grande desafio era conseguir algum engajamento durante as aulas, mesmo sabendo que ele não seria perene, pois o espaço de estudo e até mesmo a própria forma de lecionar não eram os mesmos.
Como reter a atenção de jovens com milhares de distrações e possibilidades que o ensino remoto promoveu? No meu pensamento só havia uma solução (que nunca foi uma panaceia): as aulas de geografia precisavam ser um evento especial para quem me ouvia e assistia, elas precisavam fazer sentido para eles e para mim. Diante das ferramentas disponíveis, que por sinal não eram poucas, já que falo do lugar de professor de uma instituição privada, que leciona para alunos com confortáveis condições materiais, comecei a construir as aulas com enredo da minha vida cotidiana, mas que ao mesmo tempo trazia para as aulas os elementos da matéria de uma forma sempre descontraída e leve, sem forçar a barra, até porque o momento da aula também deveria comprometido com aquilo que tínhamos para estudar. E foi assim que construímos, eu e os estudantes, uma relação que se fortaleceu no contexto improvável do afastamento social e do convívio.
Nem tudo foram flores, como à época escrevi aqui mesmo na coluna textos “desabafos”, sobre a dificuldade de promover alguma interação com os alunos. Foram altos e baixos, mas muitos momentos genuinamente engraçados e cativantes. Como no dia em que a tela do meu computador queimou e tive que levá-lo às pressas para o conserto, que para meu desespero demoraria um mês. Nesse momento fui socorrido pelo velho notebook da minha mãe, com uma capacidade menor de processamento até para abrir os slides da aula, o que exigia certa dose de paciência e bom humor. Mas isso não foi um problema e o nobre notebook passou a ser apelidado carinhosamente de “notebook de mamãe” pelos alunos. Esse foi apenas um dos episódios, dos momentos em que vivemos juntos e longe, mas que foram levados com carinho nas palavras e nos gestos, transcritos em um dos momentos mais felizes e leves da minha carreira na semana que se passou. A minha gratidão sempre a vocês que fazem o que eu faço ter algum sentido em meio a tantos desafios da vida cotidiana.