Marcelo Batista
534 dias fora das salas de aula. Depois de tanto tempo longe, nesta sexta-feira estarei de volta. Tanto tempo passou, que devo ter perdido o jeito. São tantos dias trabalhando de casa, que virei um especialista em aulas virtuais. Entendo tudo sobre montar aulas no Power Point, sobre o melhor ângulo da luz no quarto, a melhor posição da câmera, o horário que o vizinho conversa perto da minha janela, o horário que o caminhão passa vendendo vassoura na porta de casa.
76 semanas longe do contato físico com os meus alunos. Como deve ser essa dinâmica do ensino híbrido? Será que é melhor usar o quadro ou manter as apresentações digitais? Minhas pernas ainda vão aguentar a rotina como nos velhos tempos?
12.816 horas. É tempo suficiente para sentir falta do quadro que não acabei de preencher em março do ano passado. Seria tempo de conhecer com mais calma cada um dos alunos que deixei, congelados no tempo no ano passado.
18 meses. Deu tempo de perder algumas dezenas de quilos, de aumentar a família, de gravar cursos on-line, de aumentar a carga horária na escola, de criar mais raízes em casa. Deu tempo de acompanhar de pertinho a gravidez da minha esposa, de acompanhar o crescimento do Marcelinho nos primeiros meses, de escutar cada choro. Deu tempo de amar ainda mais a família que construí e aquela de onde eu vim. Deu tempo de sentir o coração apertar de saber que vou ficar mais longe deles.
768.960 minutos. Foi tempo suficiente para mudanças de estações, quase tão velozes quanto as trocas Ministros da Educação. Não faltou tempo para pensar que eu nunca mais iria voltar, que a situação não ia melhorar. Foi tempo até de mudar de ideia e de sonhar que todos voltaríamos rapidinho, sem pandemia.
46.137.600 segundos. Depois de tomar as duas doses da vacina é hora de retornar. No peito a gratidão por trabalhar em empresas sérias, que fizeram questão de me dar tempo para a imunização completa e a tristeza pelos colegas que não tiveram a mesma sorte. Deu tempo.