Marcelo Batista
Logo antes do feriado, uma das principais dúvidas dos alunos do pré-vestibular era escolher o que fazer com o tempo livre dos dias que viriam: estudar ou descansar? Enquanto muitos nutriam a esperança de que conseguiriam colocar os módulos atrasados em dia, alguns sentiam que seria um momento propício para o descanso, para recarregar as energias para o próximo mês. Fico com o grupo que opta pelo descanso, afinal os 30 dias que antecedem o Enem costumam ser pesados tanto para os professores quanto para os alunos.
Quando a prova vai chegando, o aluno que não fez nada ao longo do ano se arrepende. Começa a loucura de tentar aprender absolutamente tudo que ficou para trás em pouquíssimo tempo. Nesse momento, o estudante desiste de dormir, de ter vida social, de encontrar com os colegas e alguns começam até mesmo estratégias mais ousadas como matar aula para ganhar tempo de estudo. Outros, os que já estavam estudando, geralmente continuam o processo nesse finalzinho, mas sofrendo com o peso do cansaço acumulado e com a ansiedade que costuma rondar a maior parte dos alunos.
Mais importante ou até mais que o dia da prova será o momento posterior ao Enem, quando, no Sisu (Sistema de Seleção Unificada) o aluno vai definir qual curso irá fazer e em qual universidade, momento mais marcante para o futuro e para os próximos anos. Antigamente era diferente, era necessário escolhermos antes, o que era positivo, pois a escolha era muito mais por convicção do que pela nota no exame, mas que evitava algumas escolhas mais incertas que poderiam acabar funcionando. Quando escolhi o meu curso foi tudo baseado na incerteza: queria fazer comunicação, mas havia o boato que o curso poderia fechar na UFMG. Preferi arriscar apostando tudo na minha segunda opção, o curso de letras, que hoje, certamente, me faz muito feliz.
Mais curioso que o contexto vivido pelos alunos é o do professor. Somos os responsáveis por tentar equilibrar e aconselhar os métodos infalíveis de estudo, por ajudar a controlar a ansiedade, por dar o conteúdo mesmo com um calendário bem apertado e precisamos estar sempre animados e prontos para o ano seguinte, quando repetiremos sempre a mesma coisa. Isso, claro, se as instituições onde trabalhamos quiserem continuar conosco, se o Enem continuar ocorrendo, se a prova ocorrer mais ou menos na mesma data…
Nessa possível repetição condicional vamos e estamos sempre, devido a uma escolha que fizemos na mesma época de vestibular em que os alunos se encontram agora. Escolhemos ser professores por loucura, por falta de opção, por amor, por dom, por inconsequência. Mas escolhemos. Essa mesma escolha que nos desgasta, cansa, tortura, esgota é a que dá amor, alegria, realização e felicidade. E assim vamos, repetindo todo ano a nossa maravilhosa e amarga rotina. Amanhã comemoramos o dia dos professores, como todo ano. Data de reflexão, encantamento e contestação, dessa profissão que é como um vício, mas que não conseguimos nunca abandonar.