Por pouco, muito pouco mesmo, as mentiras do senador Marcos do Val (Podemos-ES) não deram certo. O senador, envolvido numa polêmica há vários dias sobre uma suposta entrevista dada à VEJA, em que ele manifestou o desejo de renunciar a seu mandato, coisa que não fez, nem fará, pode no fundo complicar a vida do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Esse jogo envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro, suposto autor da ideia, o ex-deputado federal Daniel
Silveira, preso no dia seguinte a que perdeu o mandato, e tem como pano de fundo as mentiras do senador Marcos do Val, que tenta nos últimos estertores incriminar o ministro Alexandre de Moraes, na verdade o enredo de toda essa história, por todas as razões tida como cabulosa.
Mas de que se trata, afinal de contas? De algo absolutamente tosco, como seria próprio do senador Marcos do Val. Do Val disse que daria uma entrevista à revista VEJA, que o rebate item por item, em que Jair Bolsonaro, Daniel Silveira e o próprio senador construiriam uma história pela qual se pretenderia dar um golpe contra a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
E em que consistiria esse golpe? Os três tentariam impedir a posse de Lula, levando com eles a história do golpe, tido aliás pelo ministro Alexandre de Moraes como um “tabajara”, ou seja, algo rudimentar. O que agora está pegando é que Moraes teria pedido ao trio que alguém gravasse a conversa entre o trio golpista, de tal sorte que envolvessem o ministro do STF na história, como se ele estivesse compactuando com a conspiração.
Ocorre que o ministro não caiu na conversa e, por último, o senador capixaba já diz agora – e aí está o detalhe de toda essa conversa – que o ministro pediu que ele “formalizasse o registro para entrar nos autos”. E o golpe final, a que Moraes chamou de “operação tabajara”: como nada deu certo, Marcos do Val quer agora que o ministro Alexandre de Moraes seja afastado do inquérito sobre os atos antidemocráticos.
E como o ministro Alexandre de Moraes vê tudo isso? “A ideia genial – aspas para o ministro – que tiveram foi colocar uma escuta no senador para que o senador, que não tem nenhuma intimidade comigo, conversei três vezes na vida com ele, pudesse me gravar. E a partir dessa gravação solicitar minha retirada da presidência do TSE”.
O ministro classificou o plano como uma tentativa de “operação tabajara”, que mostra exatamente quão ridículo chegamos a uma tentativa de um golpe no Brasil”. Ao depor quinta-feira em Brasília, o senador Marcos do Val entra em contradição e culpa Daniel Silveira pelo plano contra o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, com o envolvimento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Ou seja, a ideia do senador Marcos do Val quase deu certo, não fosse ele um contumaz mentiroso e participar de uma trama da qual faziam parte o trapalhão Daniel Silveira e o ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem o ministro Gilmar Mendes, do STF, ao avaliar toda essa trapalhada, não titubeou ao dizer que “a gente estava sendo governado pelo pessoal do porão”.
Numa outra frente das investigações sobre os atos antidemocráticos, o ministro Vinicius de Carvalho, do Tribunal de Contas da União, anunciou que poderá derrubar o sigilo imposto pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em pelo menos 234 processos. Entre eles, os relacionados ao cartão de vacina do ex-presidente, os gastos com as chamadas “motociatas” e sobre informações a respeito de visita dos filhos de Bolsonaro ao Palácio do Planalto.
Ainda na campanha eleitoral, o então candidato Lula prometeu que, se eleito, faria a revisão dos sigilos impostos por Bolsonaro. E ao tomar posse, Lula assinou um ato determinando que a CGU fizesse a revisão dos processos sob sigilo.