Blog do LindenbergCarlos Lindenberg, jornalista, ex-comentarista da BandMinas e Rádio Itatiaia, e da Revista Exclusive. Autor do livro Quase História e co-autor do perfil do ex-governador Hélio Garcia.

Inspirado por Bolsonaro, presidente do PL pede impugnação da eleição, mas só no segundo turno

Publicado em 24/11/2022 às 06:00.

Ao pedir o cancelamento das eleições, sob a inspiração do presidente Jair Bolsonaro, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, esqueceu certamente que a eleição ocorreu em dois turnos, o que implicaria na anulação de todo o processo que elegeu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, numa reviravolta que poria em xeque todo o processo eleitoral e praticamente aposentaria as urnas eletrônicas – dado o tamanho do estrago que causaria. 

E tudo porque o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, resolveu apresentar um pedido golpista em que pede a invalidação de votos depositados em urnas anteriores a 2020, o que só complicou as coisas, obrigando até mesmo o presidente Bolsonaro a ir ao Palácio do Planalto, depois de 20 dias na moita, depois de receber o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, a quem mal cumprimentou, mas desejou sucesso nessa fase de transição. 

Nesse período, bolsonaristas ocuparam rodovias, encheram espaços diante de quartéis – mesmo que essas áreas sejam tidas como “áreas de segurança” e, portanto, sujeitas às regras próprias da região –, mas ainda assim em nenhum momento o presidente desestimulou os atropelos golpistas contra o resultado eleitoral.

Mas voltando a Valdemar Costa Neto, cuja ex-mulher, de Miami, cometeu num destempero contra o ex-marido, classificando-o como traficante de drogas, mas o fato é que o presidente do PL pediu a impugnação de mais de 280 mil equipamentos porque “teriam apresentado problemas crônicos de desconformidade irreparável no seu funcionamento”. 

Para Valdemar, Bolsonaro teria sido eleito com 51,05% dos votos válidos contra 48,95% do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. Na verdade, ao final, no resultado reconhecido pelo Tribunal Superior Eleitoral, Lula teve 50,9% dos votos e Bolsonaro teve 49,1%.

O que Bolsonaro pretende é tumultuar o processo eleitoral adotado aqui e em mais 35 países, o que demonstra que o presidente Lula, se tomar posse e não há razão para que não tome, nem com essa chicana de Valdemar, terá dificuldades para governar, ainda que Bolsonaro não ponha o figurino de líder da direita mais reacionária – aquela que teria saído finalmente do armário.

Na prática, se levada essa impugnação a sério, teria que haver uma nova eleição, com severos prejuízos não só para o partido de Valdemar Costa Neto como para todos os que se elegeram já no primeiro turno, inclusive para o governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas, já que uma suposta impugnação anularia todos os eleitos no primeiro ou no segundo turnos. 

É de lembrar que Valdemar pede a inversão do processo eleitoral só no segundo turno, o que levou o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, a exigir, em 24 horas, que o partido entrehue o relatório incluindo os dois turnos, sob pena de revogação da inicial, o que de fato o PL pretende. Ora, o que Bolsonaro quer é melar a eleição, ganhar no tapetão, como fazem alguns times de futebol, até porque Valdemar não apresenta nenhuma prova do que fala.

A ação apresentada pelo PL é baseada em relatório do Instituto Voto Legal, mas curiosamente Valdemar Costa Neto pede a impugnação apenas dos votos do segundo turno, o que ensejou a réplica do presidente do TSE. Essa invertida do presidente do TSE deixa o PL em circunstâncias ruins porque, entre outras coisas, o partido de Valdemar elegeu a maior bancada do Congresso, que agora corre o risco de perder os mandatos.

PS: para melhor recuperação da garganta, operada no final de semana, Lula deverá permanecer mais uma semana em casa. E não custa lembrar o que disse ontem o general Santos Cruz sobre o sumiço de Bolsonaro – aliás, até hoje não se sabe quem vai colocar a faixa presidencial em Lula, o vencedor das eleições – “é uma posição covarde, pois que é obrigação do presidente derrotado se manifestar civilizadamente após as eleições e promover a paz social”.

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