Blog do LindenbergCarlos Lindenberg, jornalista, ex-comentarista da BandMinas e Rádio Itatiaia, e da Revista Exclusive. Autor do livro Quase História e co-autor do perfil do ex-governador Hélio Garcia.

Lula contesta vitória de Maduro, defende Alexandre de Moraes e denuncia 'sequestro do orçamento'

Publicado em 17/08/2024 às 06:00.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deixa de ter razão quando diz que pelo menos “metade do orçamento da União foi sequestrado pelo Congresso Nacional”. De fato, ninguém pode governar sem orçamento, muito menos o Executivo. Mas isso criou um tumulto tal entre parlamentares que o ministro Alexandre Padilha teve que encontrar uma saída para acalmar os ânimos. Padilha assegura que parlamentares e governo encontrarão a melhor negociação para a situação.

Mas, confusão mesmo é o que o presidente Lula está fazendo no caso das eleições da Venezuela. Primeiro ele declarou apoio a Maduro e, agora, volta atrás e anuncia não reconhecer as eleições venezuelanas, até que as Atas sejam apresentadas. É uma confusão só. Para se defender das criticas internacionais, Maduro recorre ao discurso bolsonarista ao sistema eleitoral brasileiro. Ora, se o próprio presidente contestado da Venezuela, usa uma frase do ex-presidente Bolsonaro para alegar que suas atas estão corretas, por que Bolsonaro teria incorrido em erro? E com isso, Maduro resolve inverter o jogo e dizer que não aceita a sugestão de Lula de fazer uma nova eleição ou coisa parecida. Outra trombada do presidente Lula com o que seria um aliado.

E a terceira lambança da semana está na guerra das versões e narrativas jornalísticas no que se refere a supostas irregularidades cometidas pelo então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, no processo sobre Fake News que teve inicio em 2019, no Supremo Tribunal Federal. O Jornal Folha de São Paulo traz as denúncias e começa o barulho. A imprensa toda tenta embarcar. Merval Pereira, presidente da Academia Brasileira de Letras, acabou se desentendendo com seus pares num bate-boca com colegas da Globo News, um dos braços do sistema Globo de Rádio, coisa de resto desnecessária. OAB anunciou que pedirá acesso aos inquéritos, o ministro alega que agiu investido do seu poder de polícia contra as fake News.

A Folha produziu o titulo ao alto, que não fecha com o texto dos especialistas. E escreveu um novo editorial contrariando o que diziam os juristas entrevistados pelo próprio jornal. E o Estadão? O Estadão, até a tarde de ontem, havia reproduzido o conteúdo da Folha, entregando aos seus articulistas a tarefa de defender o bolsonarismo e a ideia de que o inquérito das fake News pode ser anulado – tarefa típica do bolsonarismo. O Estadão usou seus dois principais “juristas”, William Waack e JRGuzzo, para defender Bolsonaro e sua turma. Ambos são, além de conhecidos juristas, os dois jornalistas mais admirados pela audiência do fascismo.

Na verdade, a Folha de São Paulo acabou ficando sozinha na tentativa de desqualificar o trabalho do ministro Alexandre de Moraes e de acionar de novo – ora seu Merval ...-  a extrema direita. A Folha ficou tão sozinha que o Globo, mesmo com o Merval e tudo, chegou a produzir a seguinte matéria na última quinta-feira: Juristas alertam para o acúmulo de função, mas veem respaldo nas decisões de Moraes”. Ou seja, foi uma página triste para nossos jornais – em especial para O Globo, Estadão e a Folha de São Paulo, todos irmanados na desmoralização do jornalismo e da credibilidade da imprensa pátria, como se fossem os únicos donos da verdade.

Esse é o jornalismo que se pratica no país atualmente. O Globo atirando na manchete da Folha, enquanto nenhum dos dois outros jornalões se mostravam dispostos a gastar tempo e repórter para acompanhar a “denúncia” de Greenwald e atirar mais osso à cachorrada do bolsonarismo. E, com isso, se encerra uma triste página da imprensa brasileira a atirar mais osso à cachorrada do que o próprio bolsonarismo.

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