Não parece ter sido tão ruim assim o desempenho do ex-presidente Lula (PT) ao levar para o segundo turno as eleições desse ano, ainda que os jornais europeus, sobretudo, afirmem que o bolsonarismo deu demonstração de força, neste domingo, e coloca Lula na defensiva.
É verdade que o presidente Jair Bolsonaro se saiu melhor que o previsto e vê aliados nos estados e no Congresso com boas vitórias, sobretudo na Câmara e no Senado. Quem poderia supor, por exemplo, que a sua ex-ministra Damares Alves se elegeria senadora? E quem poderia supor que o vereador Nikolas Ferreira fosse um campeão de votos ao obter mais de 1,6 milhão de sufrágios numa eleição como essa?
De sorte que o bolsonarismo ressurgiu com força nesse domingo, não comparável há quatro anos, mas ainda assim com força suficiente para se manter na ativa por um longo tempo. E quem poderia supor que o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello se elegesse com tanta folga no Rio de Janeiro? Claro que se pode dizer que são exceções, como há sempre nas eleições, mas ainda assim tais situações mostram que, por isso mesmo, o ex-presidente Lula vai ter que se recompor e não pensar que o segundo turno será apenas uma “prorrogação” do primeiro.
Lula terá que recompor seu arsenal e já começa perdendo parte de Minas Gerais, onde o governador eleito no primeiro turno, Romeu Zema, diz que “uma composição com o PT é inimaginável”. É verdade que Lula ganhou bem em Minas, embora seus candidatos - Kalil, Alexandre Silveira e o ex-governador Fernando Pimentel - tenham experimentado derrotas inimagináveis.
Mas o fato é que Lula, que obteve 44,83% dos votos válidos contra 43,20% de Bolsonaro, acabou recuperando algumas cidades que Fernando Haddad perdeu em 2018, entre elas 226 redutos eleitorais que se bandearam para outros partidos há quatro anos. Isso não pode dizer muita coisa, mas mostra também que o candidato do PT teve força para virar o resultado nesses municípios, não esquecendo que no Ceará uma disputa entre os irmãos Gomes decretou a vitória de um candidato do PT, coisa até então inimaginável.
Uma coisa é certa. Os principais institutos de pesquisa foram os grandes perdedores dessa campanha eleitoral. Poucos acertaram. O que se pode dizer é que muitos não captaram as mudanças de última, ainda que tenham pesquisado o eleitorado nas últimas 48 horas que antecederam o pleito.
Em defesa deles, o que se poderia dizer é que pesquisa é um retrato do momento e que na realidade eles não conseguiram captar a onda que levou Bolsonaro a mais de 43% dos votos, quando a maioria dos institutos davam de certa forma a eleição de Lula no primeiro turno.
Muito ainda se vai escrever durante esse segundo turno. Mas Lula precisa se precaver em algumas regiões como no Sudeste, onde só ganhou em Minas Gerais, perdendo em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Espírito Santo. Além de destacar que em Minas seu candidato ao governo do Estado, Alexandre Kalil, sequer foi ao Sul de Minas, como constatou um seu apoiador que percorreu a região a uma semana do pleito e constatou o completo desconhecimento do ex-prefeito de Belo Horizonte, um administrador sério a ponto de reconhecer que a vitória do vereador Nikolas Ferreira foi produto de uma oposição feita a ele, Kalil, e que parece dotado para o exercício da política dada a sua perspicácia e sagacidade.
Enfim, muito ainda se vai escrever sobre os esses 30 dias da campanha do segundo turno que começou ontem. Em suma, Lula ganhou em 3.378 cidades e Bolsonaro em 2.192 municípios. E não se pode negar, até porque isso acontece pela primeira vez na história, duas deputadas trans se elegeram: uma em São Paulo, Erika Hilton, e Duda Salabert, em Minas Gerais.