Blog do LindenbergCarlos Lindenberg, jornalista, ex-comentarista da BandMinas e Rádio Itatiaia, e da Revista Exclusive. Autor do livro Quase História e co-autor do perfil do ex-governador Hélio Garcia.

Moraes bateu forte e marcou distância entre ele e o presidente Bolsonaro

Publicado em 18/08/2022 às 06:00.

Foi um discurso duro e com indiretas ao único que não aplaudiu a fala do novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Alexandre de Moraes: o presidente da República, Jair Bolsonaro. Postado numa mesa onde ficam as autoridades, mesmo com mais de dois mil convidados, e de frente para o ex-presidente Lula, Bolsonaro em nenhum momento aplaudiu o ministro Alexandre de Moraes. Nem poderia. Em boa parte do seu discurso o novo presidente do TSE elogiou a segurança das urnas eletrônicas e falou em defesa das instituições democráticas. Não havia razão para o presidente da República aplaudir. E olha que o duro discurso de Moraes foi feito diante de uma plateia que contava com ex-presidentes da República, governadores, ministros e ex-ministros do STF, além do próprio Bolsonaro.

Moraes não titubeou. Disse que a Justiça Eleitoral seria “célere, firme e implacável” no combate às informações falsas e que a Constituição não permite a divulgação das mentiras que ataquem as eleições. A indireta ao presidente da República foi exatamente nesses pontos até porque Bolsonaro jamais apresentou uma única prova de acusações que faz às urnas eletrônicas, ainda que ele e seus três filhos – um vereador, que estava presente, um senador e um deputado federal – tenham sido eleitos por esse mesmo sistema e jamais apresentaram provas, nem mesmo o presidente, a despeito de sempre atacarem as urnas eletrônicas.

De maneira que foi um discurso duro e assertivo o de Moraes, ainda que Bolsonaro já soubesse que o novo presidente do TSE iria fazer a defesa das urnas eletrônicas. O que pegou na jugular foi a contundência do discurso, tido como acima do tom e numa pompa que serviu para marcar, de propósito, a equidistância de quem defende as urnas eletrônicas e de quem as ataca sem demonstrar qualquer prova do que diz.

Mas alguns cuidados foram tomados para evitar constrangimentos. A ex-presidente Dilma Rousseff, por exemplo, foi colocada a distância do seu antigo vice, Michel Temer. Entre eles ficaram os ex-presidentes José Sarney e Lula da Silva. Carmen Lúcia e Gilmar Mendes, ambos do STF, levantaram-se para cumprimentar Lula, que não fez nenhum gesto para evitar simpatias, a tão ponto que, à saída, foi rodeado de prováveis amigos e distribuiu simpatia a rodo. Mas não evitou os cumprimentos de Paulo Guedes, ministro de Bolsonaro.

Mas a direta mesmo no presidente da República foi quando o novo presidente do TSE, Alexandre de Moraes, disse alto e bom som que o “Brasil é a única democracia do mundo que apura e divulga os resultados eleitorais no mesmo dia, com agilidade, segurança, competência e transparência”, sendo aplaudido de pé pelo auditório, numa noite que foi sobretudo de Alexandre de Moraes, tendo sido aplaudido discretamente pelos seus colegas do STF André Mendonça e Kassio Marques – e ambos, como se sabe, foram nomeados para o Supremo pelo presidente Bolsonaro, mas não regatearam aplausos à fala de Moraes. Enfim, Moraes teve a sua noite de brilho e, ao que parece, marcou distância da fala golpista de Bolsonaro.

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