Blog do LindenbergCarlos Lindenberg, jornalista, ex-comentarista da BandMinas e Rádio Itatiaia, e da Revista Exclusive. Autor do livro Quase História e co-autor do perfil do ex-governador Hélio Garcia.

Segurança não impede que moradora de Juiz de Fora chame Bolsonaro de corrupto, e na frente dele

Publicado em 16/07/2022 às 06:00.

Um pequeno incidente marcou ontem a motociata patrocinada pelo presidente Jair Bolsonaro a Juiz de Fora, onde em 2018 ele sofreu um atentado. Uma mulher chamou o presidente de “corrupto” e foi afastada do local pelos seguranças. O relato da mulher: 

– O presidente estava próximo do prédio onde moro e eu não tive nenhuma dificuldade para chegar perto dele. Quando estávamos bem próximos, com os braços para baixo, eu gritei e o chamei de corrupto. Ele me empurrou para tentar se afastar de mim e, em seguida, dois homens me conduziram por alguns metros para fora do local onde a manifestação estava acontecendo. Então eu caminhei sozinha até a entrada da minha casa. Meu protesto foi contra Jair Bolsonaro e não em apoio a qualquer outro político.

Por aí se vê que a segurança do presidente não é tão eficiente assim. Imaginem se à frente dele estivesse um outro Adélio Bispo, o autor do atentado contra Bolsonaro em 2018. A mulher conta que o presidente a empurrou e só aí é que dois homens a afastaram de Jair Bolsonaro. O presidente visitou a Santa Casa, onde recebeu na época os primeiros socorros e participou de um culto evangélico. 

A viagem de Bolsonaro ocorre no momento em que o presidente vê seu nome associado a crimes por parte de apoiadores contra seus adversários políticos. Ontem, a Polícia Civil do Paraná indiciou o policial penal Jorge Guaranho  por homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e por causar perigos a outras pessoas. Mas não indiciou Guaranho pela motivação política do crime. Ele matou o guarda municipal Marcelo Arruda, filiado ao PT, há uma semana, quando Arruda  comemorava 50 anos em um salão de festas tendo como tema exatamente o ex-presidente Lula, que se manifestou ao saber da pressa com que a Polícia Civil encerrou as apurações: “Marcelo era um trabalhador, pai de família. Marcelo é vítima de uma violência que foi contra a democracia”, disse o ex-presidente Lula ao saber que a Polícia Civil do Paraná encerrou assim o assassinato de Marcelo Arruda.

Ora, as câmeras de segurança dentro e fora do prédio onde Marcelo comemorava  aniversário  mostram que o policial penal esteve no local minutos antes de matar o guarda municipal, houve uma ligeira discussão entre eles – Guaranho disse que fazia uma ronda pelo local, sem que se saiba o porquê dessa ronda e a delegada também não a explicou – de forma que a conclusão da polícia paranaense levantou suspeitas no mínimo por duas razões: a pressa com que o inquérito foi concluído, oito dias apenas, com uma troca de delegada no meio e tendo prevalecido a opinião da esposa de Guaranho de que ele teria sido humilhado, quando parece óbvio que o indigitado sabia que no salão se comemorava um aniversário cujo tema eram o PT e o ex-presidente Lula, tanto que, ao voltar de sua casa, ele já atirou da rua em Marcelo e ainda o executou a poucos metros de onde a vítima estava caída. Agora não justificável também é o momento em que Guaranho, atingido por Marcelo, foi chutado na cabeça por um frequentador da festa. Além do quê o bolsonarista, ao chegar à festa, atirando do meio da rua, já gritava que era “Bolsonaro” e que era “Mito”, duas expressões que caracterizam sobremaneira os aficionados do presidente da República.

Enfim, sorte de Bolsonaro que ontem em Juiz de Fora não havia um outro “Adélio” à solta e não menos destacável a pressa com que a Polícia Civil do Paraná deu o caso por encerrado, não esquecendo que a justiça do Paraná não permitiu que a apuração do crime pudesse ser tocada sob sigilo, como queriam os promotores que cuidam do assassinato do petista Marcelo Arruda.

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