Blog do LindenbergCarlos Lindenberg, jornalista, ex-comentarista da BandMinas e Rádio Itatiaia, e da Revista Exclusive. Autor do livro Quase História e co-autor do perfil do ex-governador Hélio Garcia.

Zema fica imprensado entre Kalil e Viana e corre o risco de ser a 'gata parida' dessa eleição

18/04/2022 às 18:48.
Atualizado em 18/04/2022 às 18:50

Não bastasse a entrada nas redes sociais – em que o ex-prefeito Alexandre Kalil ataca o governador Romeu Zema, com o mote de que é preciso dizer a verdade e que Zema não passaria de um capacho de Jair Bolsonaro –, não deve passar de liso a troca de farpas entre o presidente da Assembleia Legislativa, Agostinho Patrus, e o próprio governador que, mirando em Patrus, chama-o de “nocivo” e toma uma pedrada de volta com Patrus chamando Zema de “incapaz”.

São as primeiras refregas de uma campanha eleitoral que mal começou, embora o relacionamento do governador do Estado com a Assembleia jamais tenha sido boa, sem falar nas emendas que Zema teria liberado para apenas dez deputados, no valor de R$ 300 milhões de um bolada de R$ 380 milhões, em 2021. Apenas isso poderia explicar a relação ruim que o governador mantém com a Assembleia. Mas não é só isso.

Zema eleito em 2018 pelo Partido Novo, aproveitando-se do último debate na Tevê Globo para pedir votos para Jair Bolsonaro – razão pela qual quase foi expulso do seu partido – não tem mais que 22 deputados no Legislativo, de um total de 77 parlamentares e, assim mesmo, elegeu apenas três deputados à Assembleia, perdendo um que foi expulso do Novo, provavelmente por ter discordado de alguma decisão, ou por sua participação num estranho episódio em que apontou para um determinado apartamento da avenida Afonso Pena, de onde teriam partido vaias ao governo Bolsonaro, e, pior, teria participado da invasão do apartamento como se fosse um policial – o que não é, ainda que possa ter vocação para tanto. 

Admitida a má relação do governador com a Assembleia Legislativa, talvez pela soberba ou quem sabe por haver, mais de uma vez, feito críticas ácidas aos deputados, numa delas usando palavras chulas, como a que disse que os deputados sequer se levantavam da cadeira para votar um de seus projetos, o fato é que Zema agora está enfrentando dificuldades, mesmo que as pesquisas ainda o deixem como favorito na disputa com o ex-prefeito Alexandre Kalil, que a rigor nem começou a percorrer o Estado, ainda que essas mesmas pesquisas o coloquem como favorito na região metropolitana de Belo Horizonte – o que é pouco. O fato é que ao recusar o aumento pleiteado pelas forças de segurança, pelos professores e pelos profissionais de saúde, Zema se colocou como alvo principal dessas categorias ao conceder o teto de 10,06% de reajuste para todo o funcionalismo, o que a rigor não cobre o custo da inflação, sobretudo dos gêneros alimentícios, e foca o seu discurso, pelo menos até agora, na crítica pura e simples aos governos anteriores, sobretudo ao ex-governador Fernando Pimentel que, logo no primeiro dia publicou, para governar, um decreto de emergência financeira.

De forma que o governador Romeu Zema, agora com a novidade de que o seu vice também será do Partido Novo, seu ex-secretário geral, Mateus Simões, deixando a composição da chapa majoritária possivelmente para outros partidos.

Zema pode assim enfrentar dificuldades que não serão cobertas pelo propalado acordo da Vale, que saiu barato para a mineradora, ou, quem sabe, pela adesão do governo mineiro ao programa de ajuste fiscal do governo federal, única forma que Zema tem de pagar a dívida pública que já bate na casa dos R$ 160 bilhões e o deixa com o telhado de vidro ao alcance das pedras dos adversários, um deles, o presidente da Assembleia, Agostinho Patrus, que deverá assumir o lugar de vice na chapa de Alexandre Kalil, e que poderá contar ao longo da campanha detalhes desse mau relacionamento do governador com o Legislativo estadual.

Em suma, Zema não terá no seu encalce apenas Alexandre Kalil: atrás dele irá também o senador Carlos Viana, o candidato de Bolsonaro ao governo de Minas, o que se pode supor que os dois, ainda que movidos por razões diferentes, poderão operar no meio político como o movimento da pinça, em que os dois lados apertam o terceiro na busca do segundo turno ou como o antigo brinquedo infantil chamado de “gata parida”, em que num banco todos apertam para que finalmente alguém caia fora, com a gurizada caindo na pele do que foi expelido.

Zema assim corre o risco de ser a “gata parida” dessa eleição. E por inabilidade ou por imaginar que todo Legislativo é um “puxadinho” do Executivo.

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